sexta-feira, 18 de março de 2011

Anjo

Hoje vi um anjo. Parecia tão solitário. As expressões em seu rosto eram de tristeza, mesmo assim o anjo era lindo. Fiquei imaginando ele de asas abertas, o quão deveria ser extraordinário. Mas porque será que o anjo encontrava-se ali, imóvel? Seu olhar era vago. Haveria de estar sofrendo? Olhei em volta e me perguntei se aquelas pessoas que passavam por mim poderiam ver o anjo, mas percebi que elas estavam tão apressadas que ele era imperceptível aos seus olhos. Apenas eu o via. Talvez ele quisesse ser visto só por mim. E o anjo continuava lá, paralisado, olhando para a rua ou o nada. Não existiam cores naquela manhã de inverno, apenas um céu cinza e uma árvore preta ao seu lado. Vi que o anjo também era cinza. Sorri disfarçadamente, talvez por decepção e porque havia percebido que eu não era especial como achei que fosse, o anjo jamais aparecera só para mim, ele sempre esteve lá. Era apenas um monumento na entrada do cemitério que via as pessoas passar todos os dias, como quando eu passava, sem percebê-lo. E via também aqueles que eram pessoas, posteriormente apenas matéria dentro de um caixão entrando no espaço que ele era guardião e sobre o arco, na entrada do cemitério, recebia essas matérias inertes. Quantos corpos sem vida entraram naquele lugar, uns com histórias dignas de admiração, que deixava pessoas chorando pela perda, pessoas que foram especiais e deixaram um legado neste mundo, mas também outros corpos que para muitos já partiram tarde. Enfim, muitas histórias haviam passado por ali, como outras novas haveriam de passar. Quem sabe não fossem essas histórias que ao longo do tempo marcaram as expressões daquele lindo anjo. Mas ele continuava ali, parado e sempre a postos esperando a entrada de um alguém sem vida. Talvez nunca ninguém o percebesse, mas ele continuaria lá, imóvel, em silêncio e sempre olhando as pessoas que, apressadamente, passavam por ali seguindo um caminho, mas que no futuro viriam pra aquele espaço silencioso, sem cor e sem vidas. Apenas terra e osso e concreto. O vento soprou e sai sem direção... apenas pensando no anjo que eu tinha visto hoje.
Tinho Valério

Um comentário:

  1. que lindo amigo. O anjo é o guardião da vida, mas quem dirá que ele não pode nos guardar no outro lado da vida, o que ainda poderia ser um resto de vida, um rastro.

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