domingo, 24 de abril de 2011

O Cais de Fernando

Fernando diz “todo cais é uma saudade de pedra”
Na pedra eu sentei e contemplei o mar
Estava negro refletindo o preto da noite
Mas o cais iluminava meu momento
Sua luz me alimentava
E o mar lavava minh’alma
O cais era 43
E 43 era a idade de meus anos contemplando a pedra
Agora saudade
Fernando
Pessoa
Soa
Ar
Mar
Saudades...

Tinho Valério

Ao Cais

Para João Bruno,
ou simplificadamente, Flexa.

O homem sentado à mesa
Concentrado
Talvez a fome corroesse seus pensamentos
Ele olhava o mar vagamente
As águas em movimento
O vento fazendo ondas
Ondas que na quebrada destruíam o silencio do momento
E o homem continuava lá
Sentado ao cais
Pensando...

Tinho Valério

domingo, 17 de abril de 2011

A Lésbica

O olhar dela era forte e bem traçado pelo risco da maquiagem perfeita que usava. Ela veio a mim e no impulso de mulher autoritária, me beijou. Mas não foi um beijo como outro qualquer, foi o beijo que jamais nenhum homem conseguira me dar. Me excitei imediatamente. Fiquei molhada. Naquele momento tive minha certeza sexual, eu realmente gostava de mulher. Suas mãos eram soltas e quando percebi estavam entre minhas pernas. Gemi. Ela me disse algo e quando dei por mim, estava dentro de um carro amarelo de bancos macios. Foi naquele lugar que tive minha primeira experiência homossexual. Ela era feminina, possuía todos os traços doces de uma mulher e sabia transformar sua doçura no mais sensual dos desejos carnais que alguém possa sentir. Avançou sobre mim e lentamente foi encostando seu rosto ao meu. Aos poucos sua língua começava a caminhar sobre minha face e me deixando em frenesi quando suavemente lambeu minha orelha. Me arrepiei toda. Minha pele enrijeceu, assim como o bico do meu seio. Aos poucos fomos nos despindo e ao perceber estava no banco do carona do carro completamente nua, a única coisa que usava naquele momento era minha sandália de salto dezoito, de certa forma queria parecer poderosa. Sua língua ainda passeava pelo meu corpo e eu apenas gemia. O ápice do prazer que ela pode me proporcionar foi quando finalmente chegou ao meio de minhas pernas. Enquanto acariciava meus seios, me beijava entre elas. Chupões. Gemidos. Gostos. Olhos revirando. Sexo ardendo e brotando pelo meu corpo inteiro. Não pára. Continua. O sexo. O ato. A mulher lésbica me dando prazer. Sua língua. 
Eu me contorcia e gritava, e ela envolvida no desejo que a consumia não parava de me acariciar com a boca. Minhas pernas já tremiam. Foi quando veio o gozo, o êxtase sexual que não sentia com nenhum homem. Gritei de prazer e ela simplesmente sorria a me ver gozando. E sua mão me acariciava o sexo. Não tinha forças para nada, apenas me doava ao prazer daquele momento.


Tinho Valério

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Espera


Quando o céu cobria-se de vermelho
Ele apenas esperava
Olhava o nada na imensidão do vazio
Fechava os olhos
E o mundo girava
De repente era noite
O céu havia enegrecido
Sentiu seu coração apertar
O sentimento de solidão o possuía
Foi quando olhou o céu
E viu a lua
Branca e que só-ria
Seus olhos brilharam
Sua espera havia terminado


Tinho Valério

P.S.: Para o meu grande amigo Paulo Almeida que sempre está lendo meus textos e comentando, me presenteando com ideias... muito das coisas que escrevo devo a ele! Amigo esse texto é pra você...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mais uma poesia de amor

Os meus pulmões são seus
O ar que respiro não mais me pertence
Porque doei de presente a você
Mas é ele que me mantém vivo
Para que eu tenha vida
E chegue até você
E poder dizer o quanto te gosto

Tinho Valério

terça-feira, 12 de abril de 2011

A Quinta-Feira


Inspirado na tragédia de Realengo/RJ.

Era uma quinta-feira como outra qualquer e Maria, uma menina doce, ajeitava os cabelos em frente ao espelho de seu quarto. Sentia-se especialmente linda naquele dia. Perfumou-se com seu novo perfume que ganhara de presente de aniversário. Seu pai tinha economizado e presenteado a filha quando completara dez anos. Partiu para a escola. Não entendia o porquê, mas o dia parecia estranho e ela passou a perceber coisas que antes não notava durante o caminho que percorria até seu local de estudo. Observou o cachorrinho que se encontrava encostado à lata de lixo, seus olhos suplicavam por um carinho, então foi lá e afagou-lhe a cabeça. O rabinho balançara dando sinal de que estava feliz. Mais a frente viu Dona Rosa que sempre estava varrendo a frente de sua casa naquele horário. Deu bom dia, como de costume, mas sentiu uma vontade imensa de abraçá-la, embora não tenha feito. Encontrou com a Luíza, outra colega de turma da escola e foram conversando sobre as atividades e acontecimentos ocorridos na aula da quarta-feira. O Sr. Pedro era o porteiro da escola, e Maria pela primeira vez percebeu a tristeza que os olhos dele passavam, pensou consigo mesma que deveria ter perdido alguma coisa para está daquele jeito. Porém Maria jamais pensara que aquela tristeza que refletia no olhar do Sr. Pedro provinha da perda de sua filha quando tinha quatro anos de idade, a Renata, viera a falecer de uma meningite que contraíra e por falta de um bom atendimento médico acabara falecendo no corredor de um hospital e depois daquele incidente, o senhor de olhar triste nunca mais fora o mesmo. Enquanto Maria e sua amiga se dirigiam a sala de aula, em algum lugar perto dali havia um homem, de olhar frio, seus olhos eram castanho escuro, mas nessa quinta-feira estavam mais claros, apesar das veias vermelhas ao redor, já que havia passado a noite em claro pensando em coisas ruins. Deu-se início as atividades escolares quando a professora Raquel chegou à sala de aula. Maria achou que a professora estava radiante, seus olhos sempre esbanjando serenidade, nesse dia em especial usava um perfume de um aroma doce. O tempo ia passando e a aula seguia maravilhosa. O homem de olhar frio fechou seu caderno que tinha várias coisas escritas, deixou-o dentro do armário e saiu rua a fora. Caminhava a passos lentos, tranquilamente. Era intervalo na escola, Maria encontrava-se no pátio junto das amigas, enquanto olhava para o alto procurando de onde vinha o som do pássaro que cantarolava e se deparou com um ninho, provavelmente o animal que cantava era o dono daquele lugar tão pequeno, mas que era sua casinha, onde descansava todas as noites. Ao som do sinal, chegara ao fim o recreio, todos retornavam às suas salas. O homem chegara à escola, passou pelo Sr. Pedro sorrateiramente e entrou sem que fosse percebido. Retirou de dentro da mochila um objeto negro e de ferro, dele posteriormente saiu fogo. Seguiu pelo corredor, parou em frente à escada, olhou pra cima e começou a escalar. Maria sentia-se inquieta agora. Ouviu-se o som forte de bexigas estourando. Depois gritos. Agitação. Maria olhou a professora Raquel, e pela primeira vez viu que seus olhos não estavam mais serenos como sempre, desta vez estavam desesperados. Os gritos e as bexigas estourando não paravam. Algum colega correu e foi até a porta, ouviu-se um estouro perto e o garoto caiu no chão. Um balde de tinta vermelha devia ter caído e derramado. Mas quem estaria carregando esse balde? Os colegas de Maria começaram a chorar e gritar e recuaram para o canto da sala. Daí tudo foi ficando lento. O vento que entrava pela janela parecia vir levemente como uma brisa, e os papeis voavam pela sala devagar. Os gritos começaram a ficar longe. A pequena Maria não tinha forças para correr, nem sequer sair da cadeira em que estava sentada. Então, pela porta, um homem desconhecido foi surgindo. Pisou sobre a tinta vermelha, e o seu sapato saiu carimbando a sala. Naquele momento todo o barulho tinha se resumido a respirações ofegantes e por um momento Maria pensou ouvir o coração do homem bater. Todos estavam no canto da sala, menos a pequena menina doce. Ela encontrava-se entre os colegas e o homem, que agora, para ela, representava a maldade, foi erguendo lentamente o braço e em sua mão a pobre criança pode ver o objeto preto que liberava fogo ficar frente a frente com ela. Enquanto Maria encarava aqueles olhos castanhos cheio de veias vermelhas fixamente, ouviu pela última vez o estouro da bexiga. Tudo parou. Nem sequer o coração pulsou mais.

Tinho Valério

Obs.: Paulo Almeida me deu de presente a ideia para que eu transformasse em texto.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Luxúria


Dobro os joelhos quando você, me pega, me amassa, me quebra, me usa demais... Meus desejos mais íntimos vinham à tona quando ele tocava minha pele. Jamais consegui explicar tal sentimento absurdamente louco. Aquele homem tinha certo poder de hipnotizar a mais séria das mulheres, comigo não foi diferente. Meu corpo entrava em frenesi quando sentia seu peitoral rígido pressionando meus seios e em seguida todo o meu tronco, fazendo com que eu ficasse presa à parede. Seus olhos tinham poder sobre mim, apenas um olhar e me paralisava. Não demorava muito e todo o meu pudor ia embora, aquela mulher de outrora não existia mais, virava uma puta. Meu desejo sexual expelia junto ao suor. Eu sou navalha cortando na carne, eu sou a boca que a língua invade, sou o desejo maldito e bendito, profano e covarde. Lambê-lo-ia até que minha língua sangrasse de tanto atrito e assim conhecer seu corpo pelo paladar. Enquanto deslizava pelo corpo dele ia sentindo o prazer que seus dedos me proporcionavam quando iam sendo engolidos e expelidos pela minha vagina, era assim que tinha que ser: mútuo, com troca de carícias e prazeres. Sua virilidade já se encontrava em minha boca, e sabia usa-la de todos os modos. Ordene não peça, muito me interessa a sua potência, seu calibre, seu gás. Minhas unhas riscavam aquelas costas largas, de anos em trabalho duro. Mordia sua orelha e sentia sua masculinidade mais rígida do que nunca se encostando a minha vagina. Então, peguei-a com a mão e coloquei no lugar onde deveria estar. Aos poucos fomos sendo dois corpos num só, unificamo-nos naquele vai e vem cheio de gemidos e expressões de prazer. Enfim, comia ele. E o que era devagar e lento, foi se tornando rápido e forte. Seus gemidos, quase urros me deixavam delirante e com mais força ele vinha sobre mim. E mais gemidos, gritos. Eu quero é derrapar nas curvas do seu corpo, surpreender seus movimentos virar o jogo, eu quero é beber o que dele escorre pela pele e nunca mais esfriar minha febre. No fim o leite branco que jorrava, descia quente pela minha garganta, só assim poderia sentir orgasmos múltiplos até cair no chão e ficar em sono profundo. O homem ia embora sem que eu percebesse. Depois, ao acordar, me recompunha e partia como se nada tivesse acontecido.

Tinho Valério

sábado, 9 de abril de 2011

Os Espinhos

Estou preso num emaranhado de plantas espinhosas
Tento fugir, mas os espinhos rasgam minha pele
Eu caio com a dor
Meu rosto se tornou riscado e com marcas de arranhões
Eles não têm pena de mim
Eles não ouvem o meu grito de suplica
E os espinhos estão lá
Rasgam minha pele
O sangue escorre
E nem sujando eles com a cor vermelha, deixam de ser afiados
Então me perfuram
Arranham-me
Eu sou frágil
Choro...

terça-feira, 5 de abril de 2011

Contradições

Por mim podia partir
Já não me faria falta
Aprendi a viver sem depender dele
Ele me ensinou como
Não haveria mais um choro sequer
Enfim, estava livre
Ia viver minha vida
Mas no meio do caminho vi sua foto
Então cai
Retornei
Ele não estava mais lá
Ali fiquei e chorei

Tinho Valério

Pensamentos de Um Suicida


Eu queria que todos soubessem que antes de partir fui uma pessoa feliz sim. Amei intensamente. Fiz alguém feliz até quando pude. Jamais direi que fui incapaz de tal ato. Ao meu amor, um eterno obrigado aos momentos que tivemos juntos. Mas passou, hoje nem somos mais amigos. A minha família, obrigado pela minha vida (em especial a minha mãe), graças a vocês sempre tive caráter. Aos amigos, obrigado pelo carinho e companheirismo.
E como sempre fui de poucas palavras, só queria dizer que estou partindo por que pra a mim não cabe mais este mundo. Sei que não deixarei saudades, não fui um ser tão notável assim. Mas por educação, quero deixar algo escrito, quem sabe um dia alguém encontre isso... quero partir de uma maneira rápida, sem tanto sofrimento. Pensei por várias vezes me jogar do viaduto, esperar o momento exato em que o caminhão passasse por baixo daquele lugar, e logo em seguida por cima de mim. Fico imaginando se sentiria muita dor, acho que sim. Penso também em como ficaria o meu corpo, no momento exato que aqueles grandes pneus fossem passando sobre mim, me esmagando, fazendo com que as minhas vísceras saltassem pra fora, e meu intestino pulasse como a língua de um lagarto que sai de sua boca numa velocidade tremenda e a revele o quão grande ela é, só que no meu caso seria diferente, a tripa ficaria jogada no asfalto. Meu sangue mancharia de vermelho o chão preto. Meus ossos seriam apenas farelo, não resistiriam ao peso daquela enorme máquina que passaria por cima de mim e sairia me rasgando asfalto a fora. Nada de mim ficaria intacto. Meus olhos sairiam para fora. A mulher com as mãos na cabeça seria minha última visão, depois tudo ficaria escuro. Minha cabeça então acabara de ser esmagada por aquelas rodas de borracha. Meu cérebro ficaria grudado entre as fendas existentes nos pneus juntamente com fios de cabelo. Não falarei de minhas pernas porque elas não existem mais. Foram sendo arrastadas sobre o asfalto e o que restou delas foi apenas a marca no tapete negro. Depois as pessoas começariam a perceber o mau cheiro que ia subir das fezes que estavam em mim, devido a comida que tinha ingerido a noite passada, e também do sangue que se misturava a ela. Engraçado como as pessoas dizem que somos lindos por dentro, não concordo com isso. Somos feios e podres. Depois chegaria os populares querendo ver à atração. Em seguida viria o ITEP recolher os pedaços. Talvez utilizassem até uma pá pra recolher minhas vísceras, não sei. Depois tudo se dispersaria e seria tudo esquecido. Quem sabe daqui a uns tempos o asfalto estaria pronto pra mais um suicida?