segunda-feira, 16 de março de 2015

Uiara

Ao cair os tons alaranjados de todas as tardes a Mãe D’água surge de dentro das águas, suntuosa. Seus cabelos negros e longos laçam-se às flores silvestres da mata. Todo mês de Maio ela aparece quando o sol toca as águas. Dizem ser possível ouvir o fervilhar delas anunciando a chegada da morena de olhos negros como a noite. À medida que canta mais inquietos ficam os homens pelo não sei o quê.
Houve um dia, um potiguara sonhador e audacioso estava pescando e perdeu-se no tempo dos pensamentos sem perceber que o dia findava e as águas adormeciam e se calavam. Acho que estou variando, imaginou. Uma mulher de olhos grandes e faiscantes erguera-se de dentro do rio. O potiguara teve medo, mas não adiantava recuar se o feitiço da Mãe D’água já o enlaçara por completo. Ele sofria de saudade e ela crente de seu encanto, esperava. Olharam-se por segundos. Ele sorriu.
Neste mês das flores silvestres o índio invadiu de canoa no rio. Seu corpo trêmulo padecia de um abraço. Ela veio vindo, vagarosamente. Abriu os lábios úmidos e dissipou seu canto suave. Houve festa nas profundezas do rio Potengi. E dizem os mais velhos – eu não sei – que todos os dias quando o céu se cobre de vermelho, aparece uma morena toda enfeitada com rosas de jerimum caboclo e de longos cabelos negros que flutuavam na correnteza do rio a esperar pelo seu noivo porque um só não bastara.

Tibúrcio Valério

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Celular Touch

Disse que trabalhava de sol a sol para juntar o máximo de dinheiro possível e comprar um celular touch screen. O seu velho Nokia Lanterninha já estava cansado dos anos de trabalho, embora funcionasse como um novo. Não sabia nem pronunciar touch screen, entretanto queria porque queria um “toti isquim”. Trabalhou toda a sua vida como doméstica e todos os finais de semanas ia para o pagode extravasar sua alegria de viver. Era muito conhecida na comunidade e adorada por todos. Chegaram até a lhes oferecer um celular touch, mas paraguaio, o que foi motivo suficiente de bate boca. Era pobre, porém só usava o que era bom. Apesar de muitas vezes ter usado coisa falsificada que jurava de pé junto ser de marca. Pobre coitada enganada pelas sacoleiras vizinhas!
Durante muito tempo deixou de ir ao pagode no intuito de poupar seu dinheiro para no final do ano ir até às Casas Bahia adquirir seu tão sonhado celular “toti isquim”. Queria o mais caro. O mais moderno. O que tivesse mais funções, tipo aqueles que só não servem café porque ainda não foram robotizados o suficiente. Ela achava chique chegar num restaurante e tirar foto da comida para postar no Facebook e no Instagram, coisas que, aliás, ela ainda não possuía.
Cortou de suas despesas tudo que julgou fútil. Pagode; churrasquinho do seu Leôncio na esquina das Drogarias Globo; idas à praia duas vezes por mês e, também, táxi para motel com Robiney. Resolveu que juntaria cada centavo. Inclusive investiu em dindins para ajudar nas despesas. Fez de todos os sabores, leite com toddy, bolacha, coco, coco queimado, manga, maracujá com leite, goiaba, e o cargo chefe de sua empreitada, o dindim de caipirinha, o mais procurado pela vizinhança. Nos finais de semana não conseguia sequer assistir ao Esquenta com os vizinhos gritando seu nome querendo seus dindins.
Os meses foram passando e num estalar de dedos chegou Dezembro e com ele os piscas-piscas, árvores de Natal, festões de todas as cores, papai Noel que dança, um outro que faz malabares, entre tantos deles fazendo várias outras coisas que fujam do convencional com suas renas e “ho-ho-ho”.
Era sete da manhã quando, bem cedo, o relógio do seu “lanterninha” despertou pela última vez porque o próximo despertador seria do novo celular. Às oito horas já estava no ponto esperando o ônibus para ir ao centro comprar seu tão aguardado “toti isquim”. Esperou cerca de quinze minutos que lhe pareceu uma eternidade. Estava se desconhecendo pois nunca fora ansiosa. Por fim, às nove e meia descia no ponto que ficava em frente às Casas Bahia. Estava eufórica, mas tentou disfarçar. Tropeçou na entrada de tão nervosa. Por sorte ninguém viu. Apenas as câmeras de segurança. Foi ao balcão e uma moça sorridente a atendeu. Queria o celular mais caro da loja. A moça mostrou-lhe as opções, mas o que fosse mais caro era o perfeito para ela. Um mil e trezentos reais foi o preço. Um ano de garantia. Tinha até quarenta e duas horas para trocar o aparelho na loja caso desse algum problema. Compra feita. Pagamento à vista. Dez por cento de desconto. Cliente satisfeita.
Chegara à casa realizada e tratou logo de começar a usufruir de seu mais novo brinquedo. O lanterninha, coitado, já havia esquecido na gaveta da cômoda. Aos poucos foi mexendo e aprendendo tudo sobre seu novo celular touch. Tirou várias selfies em frente ao espelho. Fez biquinho para as fotos. Fez cara de modelo anoréxica com cada de nada. Fez foto da metade do rosto. Fotografou-se com roupa de academia – ela nunca malhou. Ensaiou como seria no restaurante fotografando a comida. Já tinha um arsenal de fotos para postar no seu Instagram e Facebook recém-criados.
Agora podia ir ao pagode se mostrar para todos. Queria que vissem seu mais novo brinquedinho. Estava, inclusive, se achando mais bonita. E assim o fez. Foi ao pagode. Fotografou a cerveja gelada. Usou legenda na foto. Aprendeu até a usar hastag. Tirou mais fotos fazendo biquinho com as amigas. Começou a seguir no Instagram o pagodeiro da noite. Curtiu várias fotos e suas fotos também foram curtidas. Compartilhou vídeos no Facebook. Sentia-se rainha apenas pelo fato de ter um celular que somente patricinhas podiam possuir.
Mas na semana seguinte o celular que tinha sido o mais caro da loja começou a apresentar defeitos. Como podia acontecer tal barbaridade? Ele era novo! Apenas uma semana de uso. Estava travando e muito lento. Uns disseram ser normal. Mas não era normal para um celular com apenas uma semana de uso. Resolveu ir até a loja reclamar. “Senhora, não nos responsabilizamos mais sobre seu produto, o prazo que lhe demos já venceu. Aconselho-te a procurar uma loja autorizada para rever esse problema, mas acredito que dirão o mesmo que nós lhe dissemos, ele deve estar muito carregado com arquivos ou pode ser aplicativos pesados.” Saiu injuriada das Casas Bahia. Ao relatar o ocorrido a sua patroa, fora aconselhada a ir à loja com o código de defesa do consumidor mostrando a lei a seu favor. E assim o fez. Chegou à loja com a lei grifada e exigiu a troca do produto. Não fora atendida. Chamou o gerente, o mesmo a ignorou. Fez barraco na loja e fora convidada a se retirar do estabelecimento pelo segurança. Recusou-se. Foi expulsa. No meio da rua movimentada fez mais outro barraco que só serviu para chamar a atenção. Lembrou-se de ir ao PROCON, mas antes precisava fotografar a loja e postar no Facebook sua indignação. Foi até o meio da rua para pegar o melhor ângulo da foto – agora estava craque nesse negócio de ângulo – e antes de dar o clique alguém gritou a palavra ônibus. Não teve tempo de olhar. Foi atingida pelo ônibus que fazia a linha centro/zona norte. O celular foi arremessado muitos metros de distância e levado por um moleque de rua. Ela não resistira.

Tibúrcio Valério

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Parque de Diversões

A vaidade feriu a mudança e ninguém se modificou. Mudar é sempre visto como ceder ao capricho do outro, lamentavelmente. Em geral amamos bastante para morrer, mas para transformarmos, não!
Depois da despedida não houve telefonema, não houve mensagem inbox, sequer cogitou-se uma carta escrita à mão, embora uma vontade de reconciliação magoasse meu orgulho. Aliás, esse se tornou uma espécie de regente de meus devaneios. Me repreende, protege, me bate, responde por mim. Sabe que se a palavra fosse minha diria que preciso de você para caminhar.
Apesar da indiferença – falsa, diga-se de passagem – sinto completamente o mesmo sentimento de tempos atrás, talvez mais forte que nunca, embora não consiga expressar. O coração entra em frenesi, o canto esquerdo da boca treme incontrolavelmente, meu corpo não obedece aos comandos do cérebro.
Pela primeira vez me sinto “ex” de alguém e é estranho. De repente sou o ex-namorado. O ex-amante. Deixei de ser o homem mais importante para tornar-me um estranho, uma ilusão. É imensamente tirano. Chega-se ao fim um amor nos moldes da poesia Drummoniana, sem poder reabilitar-me, sem sequer me cuidar.
Não construímos nossa prole, não compramos nossa casa e nosso cachorro não veio. Nada precisou ser dividido. Nosso amor transformou-se num parque de diversões de interior, monta e desmonta por praças diferentes.
Eu não quero ir mais uma vez na montanha-russa, preciso parar no topo da roda-gigante, o vento balançar a cadeira e uma mão segurar a minha me tirando o pavor de cair.

Tibúrcio Valério

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Receita

De tão simples, bobo e natural, provavelmente você nunca parou pra pensar: faça seu amor bonito! Ou fazer bonito o seu amor ou tornar bonito. Aprenda, simplesmente, a tão difícil arte de amar bonito porque de tão fácil que é gostar, ninguém quer aprender.
Vivi um e tenho visto muito amor por aí. Amores mesmo, daqueles gigantescos, ferozes, plenos, descomunais, profundos, sem reservas, cheios de entrega e graça. Mas tropeçam na dificuldade de se tornar bonito. Tão somente: bonito, embelezado e divino, tratado com atenção, zelo e carinho. Amores levados com arte e sensibilidade de um artista.
Então, esses amores que são verdadeiros, colossais, bravios, de repente se sentem ameaçados meramente por não saberem ser bonitos: exigem; postulam; rotinizam; descuidam; reclamam; param de compreender; carecem mais do que ofertam; precisam mais do que podem retribuir; enchem-se de razão. Ah! Essa razão! Tê-la é, talvez, o maior perigo no amor. Quem tem razão impreterivelmente se sente no direito – e o tem ou acha que o tem – de requerer, de exigir justiça, equidade, comparação, sem perceber que o que está sem razão esteja num momento da vida no qual não pode ter razão ou nem queira. Insisto: ter razão é perigoso! Geralmente, torna feio o amor porque é evocado com justiça na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão já dizia Arthur da Távola.
Conscientize-se. Você já refletiu se está fazendo seu amor bonito? Já tentou tirar do gesto, da atitude, de um olhar, da saudade, da alegria do reencontro ou da dor do desencontro a maior beleza existente? Provavelmente não, né? Cheio ou cheia de razões, você sempre espera do amor o que te convém, quando dele poderia pouco esperar, porque dessa forma valorizaria melhor tudo o que de bom ele pode trazer. Quem espera muito sofre e, sofrendo, deixa de amar bonito ou nunca chega nem a fazê-lo. O sofrimento nos tira a alegria e isso reflete no amor. Ele também deixa de ser alegre, igual, irmão e, principalmente, criança. E sem a alma infantil, puro como tal, nenhum amor é bonito.
Não receie o romantismo. Destrua as muralhas da opinião alheia. Faça coroas de rosas e enfeite a cabeça de quem você ama. Cante e seja alegre. Aconselha-se: encabulamento; ser pego escrevendo bilhetes de amor; não se cansar de olhar, e olhar, e olhar...; desuso das teorias, isso atrapalha a convivência; sempre que possível adiar com beijos aquela reclamação pela pouca atenção recebida. Pra quem ama toda a atenção será sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser a maior atenção do mundo. Quem ama bonito não perde tempo dessa pouca maior atenção do mundo cobrando da que deixou de ter. Não teorize sobre o amor, isso fica para os escritores românticos que veem poesia nos sonhos. Apenas ame. Siga o caminho dos sentimentos aqui e agora. Seja totalmente insensato.
Não se amedronte de tudo o que você teme, como os clichês, afinal todo amor bonito é exacerbadamente cheio deles. Então, não tenha medo da sinceridade; de não dar certo; de sofrer depois – sofrerá de toda forma; abrir o coração; contar a verdade do tamanho amor que sente. Use todas as possibilidades do jogo, artimanhas, golpes, perspicácias, atitudes eficazes (não é sábio ser sabido): seja então, você. Seja aquele no auge de suas emoções e carências, exatamente aquele que a vida impede de ser. Cante desafinado, mas todas as manhãs. Fale besteiras, mas criando sempre. Sinta o coração bater como no “com quem será” que a turma da escola sempre fazia no seu aniversário. Reviva os carinhos que aprendeu na infância. Não tenha medo de dizer eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.
Quem sabe assim, você consiga tornar seu amor bonito, ou fazer o seu amor bonito, ou bonitar fazendo seu amor, ou amar fazer o seu amor bonito – a ordem das palavras não afeta o produto. Sempre que ele seja a maior expressão de verdade de tudo o que você é e jamais deixou, parabéns porque você conseguiu, soube, pôde, foi possível.
Se o amor existe e está dentro de você, seu interior já é evidente. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide apenas da forma, da voz, da fala. Cuide do cuidado. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim você está apto para começar a tentar fazer o outro feliz.

Tibúrcio Valério

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Saudade Não é Ímpar

A saudade não dura para sempre.
Não deve permanecer sozinha e guardada em seu baú-coração. Não pode ficar sem ser correspondida anos a fio.
Após a tempestade, assim como a água presa, ela apodrece. Torna-se estragada. Imprópria para uso.
Quando passa de sua validade, o que antes era doce e ansioso se torna amargo e agressivo.
As lembranças se tornam arrependimentos da confiança cega que demos a alguém e esperamos incansavelmente pelo que nunca veio. Achamo-nos idiotas pelos anulamentos nossos.
Temos ódio do outro. Não desejamos sua volta, tão pouco queremos um encontros mesmo que seja por acaso.
Aquele carinho de outrora trocará de lugar com a raiva por não ser correspondido. Já não correspondemos à ternura em nossas palavras, elas estarão sempre em ponto de ataque.
Lamentavelmente, a saudade amarga.
Deixamos de clamar por uma presença que será sempre ausente. Toda a dedicação ao longo dos anos transforma-se num sentimento de tempo perdido porque não houve a reciprocidade.
As flores à mesa, as mensagens, os bilhetinhos, a fidelidade, as renúncias foram atitudes para enobrecer o fim, e descobrir que no fim você sempre esteve de mãos dadas com a saudade.
A saudade é como o positivo e o negativo só funcionam a dois. Caso contrário, torna-se solidão negativa.
É frustrante e dolorido um amor que não floresceu depois de tanto regá-lo.
É arrasador uma saudade que amofina pela indiferença do outro.
É triste promessa feita geradora de desilusões. A frase “Pra sempre” é desilusão gerada.
A saudade não é indelével. Finda quando percebemos que o amor era cheio de inverdades; era mentirosa à carência e morte o que deveria ser vida.
A saudade é desejo de um amor do passado. Deve ser sucumbida vorazmente, não mais que alguns meses. Do contrário, nos engole vivos e entrega-nos à morte.


Tibúrcio Valério

sábado, 15 de novembro de 2014

Com Apenas uma Frase

Devia ter por volta de seus noventa e poucos anos quando o encontrei pela primeira e única vez. Disse-me: “Fui muito amado durante minha vida.”. E falava com tamanha lucidez como quem dissesse: sempre me trouxeram chocolate e vinho, sempre vi o pôr do sol à beira mar todas as tardes enquanto caminhava até a Fortaleza dos Reis Magos.
Não havia soberba em sua frase, mas algo entre a humanidade e irreverência divina. Parecia um artista, que olhando seu desenho findado assina seu nome embaixo. Existia um enfado em suas palavras e gestos. Parecia se retirar de um banquete satisfeito. Estava pronto para morrer, já que sempre estivera pronto para amar.
Refleti por uns instantes e se fosse um rei mandaria fazer um busto de bronze com imagem sua. Porém, do jeito que falava, pedia apenas que em seu túmulo eu escrevesse; “Aqui jaz um homem que soube o que é ser amado e que também amou sem reservas.”. E aquele homem com seus noventa e tantos anos me confessou amar sem nenhum constrangimento. Não lhe mirei arma alguma cobrando dele algo porque ele que tinha algo a me oferecer. Foi muito diferente dos inconfessáveis de sentimentos, nem mesmo até debaixo de um “pau-de-arara”: permanecem intactos, mesmo se afogando de paixão, ardendo em amor, e não se entregam. E, no entanto, basta ler-lhe a ficha que está tudo lá: contrabandista ou guerreiro do amor.
Uns dizem: namorei muito. Outros acrescentam: casei várias vezes. E ainda tem os que se orgulham: fiz vários filhos. Teve até um cantor que disse: tive todas as mulheres que quis. Há, ainda, os que dizem: não posso viver sem fulana ou fulano. Citando indiretamente a Bíblia, diz que Abraão gerou Isac que gerou Jacó que gerou doze tribos de Israel. Mas quantos deles disse: “Fui muito amado durante minha vida.”? Certamente nenhum.
E do alto dos seus noventa e tantos anos aquele homem derramou sobre mim essa frase, me senti não apenas como um filho que quer ser como o pai quando crescer. Senti-me uma criança de seus cinco anos desejando ser um homem de seus noventa e tantos anos que diga: “Fui muito amado durante minha vida.”. Se não pensasse isto, não seria digno de receber aquela frase. E jamais poderia deixar passar essas sábias palavras que levaram noventa e tantos anos para se formarem. É como se eu visse diante de mim a lagarta transformando-se numa linda borboleta.
Ao ouvi-lo, por um momento, pensei em tudo o que Freud afirmara sobre que o desejo nunca é preenchido e que se o é, o é por frações de segundos – corrijam-me se eu estiver errado, por favor – e que a vida é insatisfação e busca incessante, tudo isso era coisa passada. E como diria Affonso Romano, “sobre o amor há muitas frases inquietas por aí.”. O próprio Bilac nos disse: “Eu tenho amado tanto e não conheço o amor.”. Até o Jabor afirmou: “O amor deixa muito a desejar.”. Quem nunca citou a frase “Eu era feliz e não sabia.”, mesmo sem saber seu autor, o saudoso Ataulfo Alves.
Aliás, tá aí uma frase que pode perfeitamente ser atualizada: eu era amado e não sabia. Sim, porque nem todos sabem reconhecer quando são amados. Versos e estrofes te aquecem do frio, flores te banham a alma, um banquete real esta sendo servido e, entediado, olha em outra direção.
Perdoe-me caros leitores por não lhes apresentar o personagem. Talvez me repreendam e é justa a represália. Mas sejamos sinceros, quando alguém está amando, já nos contamina com lírios silvestres do campo. Temos vontade de dizer, vendo-o passar: ame por mim. Exatamente quando se diz a alguém que está indo a uma festa e você diz: por favor, divirta-se por mim.
Ver uma pessoa amando é como ler um romance de amor ou como ver um filme também. A história pode ser do outro, mas passa pra gente.
Reconhece-se a vinte metros um desamado. Porém, reconhece-se a cem metros um bem-amado. Sua luz transcende. Sinos batem numa harmonia sequer pensada por Mozart ou Bethoveen. Os passarinhos pousam em sua cabeça e flores nascem no rastro deixado por ele.
Aquele que ama é um propagador.
Toca-lo é colher temperança.
O bem-amado, mais uma vez parafraseando Affonso Romano, dá a impressão de inesgotável. É uma usina de luz que de tão necessário à sociedade deveria ser declarado um bem de utilidade pública.
Tibúrcio Valério

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Platônico

De sonhar-te, minh'alma anda perdida
Cegos vivem meus olhos de te ver!
Iludo-me na esperança de te ter,
Pois que tu és minha paixão desmedida.

Não me via assim enlouquecido...
Passo as horas, meu Amor, a ler
As fotografias do teu apaixonante ser
Do mesmo álbum tantas vezes visto!

No mundo tudo é frágil e passa
Falam as vozes com toda a graça
Dum lábio divino sussurrando em mim

E, olhos em ti, de Florbela dou meus passos
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como Deus: Princípio e Fim."

Tibúrcio Valério