sábado, 7 de julho de 2012

Um conto


“Disse que foram almas dos marinheiros que morreram nos naufrágios no mar. Eu particularmente não acredito... acho que eram tão belos que poderiam ser até uns deuses!”
Por muito tempo ouviu-se naquela comunidade ribeirinha a história de dois homens misteriosos que apareceram pela praia numa madrugada de lua cheia. Ninguém soube dizer de onde vieram ou para onde foram. Uns dizem ser histórias de pescador, outros dizem ser a mais pura verdade. Enfim, o que importa é que foi um acontecimento que mexeu e mexe com muita gente até os dias de hoje.
Era meia noite e vinte e cinco minutos quando brindaram com o vinho que tomavam naquela noite. A Lua parecia ter caprichado no seu brilho. Radiante, ela refletia sua cor prata nas águas do mar, que calmo e sereno começava a encher. A brisa soava como uma música angelical que hipnotizaria até o mais bruto dos seres. Ali estavam eles, dois homens simples, fugidos da maldade, da intolerância, das agressões. Ali, poderiam ser eles mesmos. Ali poderiam se amar, trocar carinhos e olhares sem medo de qualquer punição. Brindaram ao amor, ao clichê dos sentimentos lindos despertados naquela relação. A brisa, agora entoava uma canção forte, ludibriante, envolvente e linda. E aos goles do delicioso vinho e ao som da quebra estridente dos amendoins em suas bocas explodiram num amor puro como se fosse a primeira vez. Amaram-se. Seus corpos moviam-se no ato como as folhas balançavam ao sopro do vento ou como o curvar das ondas na hora de sua quebra. Era lindo. E o vento, as ondas, as folhas, o tempo, tudo lentamente se movia, parecia até querer estacionar ali enquanto ambos se olhavam. Agora um pertencia ao outro. Formaram um corpo só. Fizeram juras eternas. Foram eles mesmos se amando.
Passava pouco mais de uma da manhã quando os pescadores disseram dar por conta de dois homens nus deitados na areia da praia. Pareciam dormir, mas estavam acordados, e só alguns minutos depois deram conta da presença daqueles caiçaras próximos a eles. Sentaram-se e observaram enquanto os pescadores passavam suas redes de arrasto. A maré já havia aumentado e estava bem próximo a eles. Assustados, os pescadores continuaram seu trabalho sem procurar interver. Segundos após ouviu-se um barulho na água...


“...de certo foram os deuses que mergulharam. Os pescadores não os viram. Até hoje não sabem dizer como eles desapareceram tão rapidamente. Eu costumo acreditar que mergulharam sim, e mergulharam de mãos dadas, segurando firmemente. Dizem ouvir até hoje um gritando que amava o outro. Muitos acham ser mentira, mas eu acho que é verdade. Ah, é sim verdade. Eu acredito no amor eterno...”

Tinho Valério