terça-feira, 12 de julho de 2011

Quando nos tocamos

O mar estava de muitos azuis
Agora parecia alegre
Sorriu para mim quando o encarei
Conversamos

O vento sussurrou ao meu ouvido
Disse-me coisas incríveis
O mar mais uma vez sorriu
O vento, me tocando por todos os lados
Levou-me ao rei azul

Nos tocamos
Ele leu meus pensamentos
E eu sorri
O vento me empurrou
O mar me puxou
Eu mergulhei para não mais voltar

Tinho Valério

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Quase um anjo

Eu não sou um anjo,
Mas não pense que eu não posso tentar.
Eu vou tentar e tentar e voar
Apenas voar
E ser anjo...
Asas...
Ventos...
Sopros...
Sonhos...
O anjo.

Tinho Valério

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Era rainha e não sabia

Pessoas indo e vindo. Malas. Crianças choravam, outras corriam. Olhei para o lado e vi uma mulher sentada sobre uma mala vermelha, de rodinha. Ela me fitava com aqueles olhos verdes esmeralda como se procurasse em mim resposta para o que estava pensando. Não parei para que ela achasse resposta, segui meu caminho e a deixei lá, sem rumo, apenas com seus pensamentos e questionamentos que não me interessavam. Cheguei perto do local de embarque, muitas pessoas estavam por ali. Sentei e observei o movimento. Havia uma moça morena com uma pele que brilhava e tinha a cor do chocolate que eu havia comido minutos antes. Ela era simplesmente linda. Lia um livro que não consegui identificar o autor nem seu título, mas pareceria ser interessante porque não me notara durante os vinte e cinco minutos que fiquei observando-a. Abri minha pasta e retirei uma folha, um lápis, uma borracha e deixei que minha vontade de eternizá-la em folha viesse à tona. Rabisquei o papel e poucos minutos depois estava ali, em riscos e cor, eternizada no papel, aquela mulher de pele morena a quem eu batizei de Aisha, uma deusa africana, uma mulher que eu quis pra minha coleção de desenhos. Ela jamais saberá que foi feita pelas minhas mãos seus contornos, a forma como eu quis que ficasse. Será um segredo meu somente meu que levarei comigo, em minha pasta rumo ao meu novo destino. Olhei para o relógio e já estava na hora de me dirigir ao portão de embarque. Assim o fiz. Ainda olhei pra trás na tentativa de ver a morena, mas ela também havia saído em busca de seu destino. Mas em breve a verei novamente, ela estará sempre em minha pasta. Aisha, a minha rainha africana. Vida.

Tinho Valério

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Preço


Ao abandonar o passado, agradeça a ele. Não persiga quem se afasta de você. Abandone o apego. As pessoas se vão porque já cumpriram a tarefa de contribuir de algum modo para o desenvolvimento de sua alma. Se alguém quer se afastar de você, agradeça-lhe por tudo e deixe-o partir. Nesse momento, prepara-se uma “vaga” para ser ocupada por... um(a) novo amigo(a) ou um(a) novo(a) namorado(a).


*Li esse texto no facebook de um amigo, e achei que caberia esse título. Infelizmente não sei quem é o autor, mas quis coloca-lo em meu blog.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A experiência que me encarava

Sentado num banco. O cigarro queimava em seus dedos. Devia ter uns sessenta e poucos anos. O senhor me olhava, não sei se sorriu ou apenas fez uma careta, mas deu pra ver seus dentes amarelos. Os minutos se passavam e ele, de pernas cruzadas, ainda me encarava. Me perguntei sobre o que pensava aquele velho homem. Nunca saberei. Não tive coragem de perguntar. Então, ele levantou, tropeçou nos próprios pés e quase caiu. Caminhou até o portão de embarque e lá embarcou rumo ao resto de sua vida. Não me importa pra onde.

Tinho Valério

Aquela Senhora

Cabelos prateados
Rosto marcado pelo tempo
Não mais jovial
Mas exalava pureza
Certamente era avó
Tinha jeito de avó
Ao falar sua voz foi doce
Perguntou-me a hora
Onze e cinquenta e três
Levantou-se
Despediu-se de mim
E partiu
Não tornarei a vê-la
Da rodoviaria seguiu seu destino
Apenas cruzou com o meu porque tinha que ser.

Tinho Valério

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Drag Queen

Nunca antes eu havia me sentido assim: completo.
Parece que enfim, minha alma e meu corpo estão satisfeitos entre si.
Acoplados. Presos na minha única verdade.
Minhas pernas torneadas estão deixadas à mostra pelo meu vestido curto e de decotes ousados.
Meu corpo agora transpira exalando meus desejos, minhas verdades, meu eu.
A minha maquiagem contorna não apenas os traços da minha face, mas desenha o desenho da minha alma, e mesmo coberto de cores, nunca me senti tão transparente.
É como se antes eu nunca houvesse existido.
Nasci agora, carregando meus cabelos longos e cacheados que balançam ao vento.
E montado em meu salto alto desfilo pelas ruas ostentando minhas jóias, meus cílios postiços e meu caráter.
Agora nada mais importa. Meu sexo não é mais definido no meio das minhas pernas, mas está transcrito nos meus sentimentos e nos meus gestos.
Assumo minha vida.
E caminhando pelas ruas, correndo contra todos os olhares, opiniões e desprezos, nunca me senti tão confiante de mim mesmo.
É como se eu somente houvesse me tornado homem quando me aceitei assim: mulher!

Paulo Silva Almeida