terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A Lua e o Lago




Todos os dias ele estava ali. Azul. Tranquilo. Ao seu redor, árvores imponentes. Os pássaros mais raros, com os cantos mais lindos, com as cores jamais imaginadas. Tudo em perfeita harmonia. Mas ao seu íntimo particular, o Lago sempre se sentiu sozinho. O único momento em que se sentia completo, vivo, era quando o Sol caía e no céu surgia a Lua, que, enamorada, o banhava com os raios prateados lhe trazendo a tranquilidade da noite.
Noite após noite os enamorados se encontravam, mas nunca se tocavam, tinham que se conformar apenas com olhares. O desejo utópico de se tocar era o que movia a paixão avassaladora que um sentia pelo outro. Os dias se passavam e era sempre assim, ela brilhava para iluminá-lo, e ele, iluminado pelo brilho de sua amada, desejava poder um dia senti-la junto de ti.
O tempo parecia voar nas noites em que a Lua, gigantesca e prateada, surgia ao céu. Entretanto, logo aparecia radiante e jorrando faíscas, o Sol. O soberano que iluminava tudo e trazia as cores para encantar o dia. Sentia inveja do Lago, porque sabia que o amor do astro magnífico pertencia somente a ele. Não admitia o fato de raramente poder ver a Lua aparecer e em poucos minutos ter que desaparecer para dar lugar somente a ela para jorrar todo o seu brilho de amor àquele pequeno ser de tão insignificante presença naquele lugar, já que havia tantos rios ao redor com água suficiente para manter vivas outras espécies e tudo ao redor.
Esperto pelos tantos milhões de anos de existência, o Sol viu no desespero apaixonado do Lago um jeito de separá-los e ofereceu-lhe uma proposta para que ficasse junto de sua enamorada Lua. “Se queres estar perto de sua amada para sempre, ouça o que direis”, dizia o Sol ao apaixonado Lago. Ingênuo, ele ouvia atentamente a proposta do astro-rei. “Se da forma como me falas encontrarei e ficarei por toda a eternidade com a minha amada, assim farei”. Sorrindo o Sol se despediu do pequeno apaixonado e logo deu lugar à luz prateada da tão desejada Lua. Animado com o que estava por vir, o Lago despejou inúmeras declarações a sua amada. Sem entender toda aquela paixão tão exagerada naquela noite, a Lua simplesmente deixava-se levar pelas manifestações de carinho do seu amado, e brilhava, e sorria, e enamorava-se cada vez mais. Ao despedir-se de sua amada, o Lago sentiu um vazio enorme tomar conta de todo o seu redor. Imaginou ser a ansiedade de saber que logo estaria junto do seu amor por toda a eternidade.
Na manhã que surgia, o Sol aparecia no nascente maior do que o de costume. A sensação na terra nesse momento era de um calor insuportável. As temperaturas haviam sido elevadas de maneira que nunca fora registrado na Terra níveis tão altos. “Preparado para ires ao encontro de sua deusa?”, perguntava o Sol ao apaixonado Lago. “Nunca esperei tanto por isso” respondia o ingênuo ser insignificante que sequer sabia o que estava para acontecer. Nessa hora o Sol começou a faiscar e brilhar como jamais havia feito antes. Os animais começaram a cegar com os raios, morrendo logo em seguida com as queimaduras em suas peles. As plantas murchavam e iam perdendo força até não resistir e também morrer. O Lago aquecia a ponto de os peixes não suportarem e pularem para a terra e morrerem fritando pelos raios faiscantes liberados pelo Sol. Enfim, o Lago começava a evaporar-se e levitar em direção ao céu transformando-se em nuvem. Agora seu encontro com sua tão enamorada Lua estava se aproximando, mas, do alto de onde se encontrava o ingênuo amante, ele percebeu o quão desastroso foi seu desejo. Tudo ao seu redor havia morrido. Os animais, as árvores, os peixes. Nada tinha vida. Uma tristeza avassaladora tomou conta de si. Ao perceber o que havia causado olhou para o Sol que gargalhava dele e da situação em que se encontrava. Do lado oposto ao Sol, a Lua, a tão enamorada Lua, ia surgindo vagarosamente, com o mais belo sorriso que ela podia oferecer, mas logo sua expressão mudou assim que viu tudo destruído. Ao procurar seu amado, encontrou apenas rachaduras no chão que um dia fora banhado pelas límpidas águas frias do seu amor.
O Lago agora era uma nuvem pesada e escura. Então, o astro-rei soprou-o fortemente e o fez sair em direção ao infinito. Desesperado, o ingênuo apaixonado gritava por socorro. O que foi em vão. Devido ao seu desejo insano, o Lago havia perdido tudo. O Sol gargalhava enquanto ia desaparecendo e dando lugar ao negro da noite.
Vagarosamente, o Lago, agora transformado em nuvem, passava diante de sua amada, que decepcionada, o olhava com tristeza, pois sabia que nuvens são passageiras e levam as águas a outro lugar. O ingênuo amante via sua deusa sofrer a perda do amor entre ambos. Ele não sabia como parar e permanecer junto dela por todo o sempre. Não voltaria mais a vê-la todos os dias como de costume, pois flutuava no céu em direção ao desconhecido. Em função de um desejo absurdo, perdera o grande amor de sua vida, e tudo o que vivia ao seu redor.
Agora flutuando pelo deserto, não pode conter sua tristeza e chorou. Sobre o deserto, se desvaneceu em água e ali mesmo, foi sugado pela sede da terra seca.

Tibúrcio Valério

6 comentários:

  1. Que pena que acabou assim!Gostei como vc escreve,parabéns!Vou te seguir,adorei sua frase do blog,abraço!!!

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    1. Owww Milena, muito obg por ter lido e principalmente por ter gostado do que escrevo.... Isso é muito importante pra mim! Bjão...

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    2. LINDA MENSAGEM ADOREI MIM ENCANTEI toca MUITO NO CORAÇÃO BARABÉNS VC E UM GRANDE POETA

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    3. Obrigado Erinaldo, fico muito feliz que tenha gostado do que escrevo!

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