domingo, 19 de setembro de 2010

O vermelho de Canoa





"Ele olhava o mar sentado, enquanto o homem que o havia feito sair de todo lugar seguro estava deitado de bruços na areia avermelhada. A água era o lugar mais longe onde já havia pousado os olhos. Mais bravio, mais perigoso. E agora curiosamente era o lugar mais familiar que podia encontrar a tantos quilômetros longe de casa e de qualquer um que pudesse abraçá-lo. Amanhecia devagar, as pessoas começavam a deixar a praia, indo pra lugar que não importa, os pescadores passavam pelo garoto sentado, pela areia avermelhada naquele ponto e não viam. Viam a areia, viam o homem, mas o garoto, o que ele era de verdade, não viam. Viam um choro, baixo, um peso no meio do sol que subia e cegava um pouco. Uma nuvem em formato de vazio... um buraco no céu. O garoto se levantou, olhou para trás, a areia perto dele já estava avermelhada também. Olhou ao redor e só havia um barco no mar. Caminhou até a água, deixou o mar lavar um pouco o vermelho de seus pés. E saiu pra procurar o lugar seguro que um abraço pode ser. Ainda chorava, ainda tremia de frio. Mas o coração pegava fogo e ele preferia que estivesse tão frio quanto a água. A praia era longa, vazia... um barco lá atrás. O peso no sol aumentava. A praia era lona... um abraço seguro. O mar não o daria."


(Arthur Dantas)


Um comentário:

  1. engraçado é que eu nem sabia que a areia de lá era vermelha...

    a areia que eu escrevi era avermelhada, mas de outra coisa...

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