quinta-feira, 11 de julho de 2013

Final Feliz

Eu tenho é medo dela. Nunca foi flor que se cheire, sempre amarga, sabe? Contam as más línguas que ela já foi catimbozeira famosa, mas que hoje vive trancada naquela casa assombrada, fazendo alguns trabalhos para as pessoas que a incomodam. Nem o agente da dengue tem coragem de ir lá verificar se existe algum foco. Ele diz que lá só vai o vento porque é atrevido, já que até mosquito da dengue tem medo daquela velha. Uma vez a vi. Estava toda de preto, confesso que tive até medo, e quando ela me viu, então... Seus olhos queriam me fuzilar, eu senti isso e foi desde esse dia que minha vida começou a ficar estranha. Acho que ela fez um catimbó em mim. Primeiro, naquele mesmo dia eu após tê-la visto fui para casa desesperada com medo e antes de chegar em casa virei o pé e cai por cima de cocô de cachorro. Muitos disseram que era sinal de sorte. E desde quando cair em cima de merda e dias depois pegar um germe, é sorte? Passei dias internada no hospital tomando remédios. Após aquele incidente comecei a olhar mais por onde pisava. O medo de cair era enorme, tudo por que havia colocado na cabeça que minha queda e o germe deviam provir de alguma macumba daquela velha. Por mais que fosse cuidadosa não deu outra, quando ia saindo do hospital cai de peitos no chão, minha mãe que conversava comigo eufórica sobre seu novo namorado nem notou meu encontro com o piso. Só veio perceber quando a enfermeira gritou. Tive que voltar e fazer novos exames. Toda semana uma ou duas quedas, pelo menos. Fiquei conhecida na escola como a professora outono, de qualquer vento que dava eu caia. Procuro não dar muito atenção a esses comentários, se não ficaria infernal minha convivência lá. No mais até que tento levar tudo na tranquilidade. Semana passada sofri uma queda enorme na rampa do colégio. Acordei me sentindo linda e que essas coisas que vinham acontecendo era apenas coincidências e não macumbas, então coloquei minha sandálias Dijean do tempo de Aline Moraes e fui para a escola, mas na decida da rampa que dá acesso aos corredores das salas de aula virei o pé, caí com os vários livros que carregava e rolei até embaixo. Levei uma vaia da escola inteira. Fui socorrida pelo professor de educação física, mas só sofri alguns arranhões. Acho que com tantas quedas aprendi a como cair sem se machucar muito. A minha ultima queda foi ao sair do banheiro. Acho que as coisas conspiram contra mim. Meu chuveiro quebrou e precisei usar o banheiro social, como sempre fui muito esquecida, levei apenas a toalha para me secar, minha roupa deixei no quarto já que era de costume sair do meu banheiro e me vestir lá mesmo. Não lembrei que teria que passar de toalha pelo corredor com acesso a porta para a sala, ainda mais que poderia chegar visita. Para completar, meu tio avô acabara de chegar em minha casa depois de anos viajando. Tudo estava perfeitamente bem até precisar sair apenas enrolada numa toalha. Ao sair do banheiro dou de cara com uma barata, meu intuito é logo de gritar, mas não quis causar escândalo por causa do meu tio e por não querer encontra-lo vestida como estava. Tentei espantar aquele animal nojento para longe e como é de se esperar desses bichinhos, ela veio ao meu encontro. Desesperada pulei por cima dela e escorreguei no tapete, por incrível que pudesse parecer, consegui manter o equilíbrio. Olhei rapidamente para outro lado em direção a sala de estar na tentativa de constatar se alguém havia ouvido algum barulho, mas todos pareciam mais preocupados em saber quais as últimas cidades que o tio Norberto havia conhecido. Caminhava a passos lentos em direção ao quarto quando senti algo se aproximando de mim, fui me virando, tudo foi ficando lento e vi a cara da barata chegando e pousando no meu rosto. Meu grito foi ensurdecedor. Bati no aparador que havia no corredor e caí junta com os porta-retratos da família. A essas alturas todas da sala já estavam no corredor me vendo completamente nua. Minha sorte foi que a foto da vó Alice caiu por cima de minhas partes íntimas. Olhei para meu tio e ele estava paralisado olhando meus seios. Chateada com a situação, perguntei-lhe se nunca tinha visto “peitos”, e prontamente, o tio Norberto respondeu que com um bico em cima e outro bem embaixo, nunca. Fiquei vermelha de raiva e fui pro quarto. Tudo isso já estava me cansando, não aguentava mais quedas e quedas. Sabia que aquela velha rabugenta tinha algo a ver com isso. Resolvi que ia descobrir o porquê daquilo tudo. Minha mãe disse que era loucura de minha cabeça e que a senhorinha não tinha nada em relação aos acontecimentos, mas não adiantou, fui mesmo assim, ainda mancando da queda na cozinha. Não lembrava o quanto a casa era distante. Por fim cheguei lá, e tratei imediatamente de bater na porta. De dentro ouvir uma voz rouca perguntando quem batia. Ainda com raiva gritei que era a mulher a quem ela colocou algum trabalho para que vivesse caindo. Rapidamente a porta foi aberta e me apareceu uma mulher minúscula, aparentemente frágil, mas quando acusei-a de fazer macumba ela me cobriu no desaforo. Quando insisti e quis entrar, ela me enxotou à vassouradas. Nunca pensei que uma mulher tão velha pudesse correr e bater com tanta força. O engraçado é que durante a corrida não torpecei e nem sequer me arranhei. Nessa confusão toda acabei descobrindo que correndo eu não caio e faço tudo com mais rapidez. Agora sou conhecida na escola como ligeirinha. E quanto à senhora, prefiro deixa-la com seus feitiços. Vivo bem nessa correria. Estou até emagrecendo.

Tinho Valério 

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