quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Receita

De tão simples, bobo e natural, provavelmente você nunca parou pra pensar: faça seu amor bonito! Ou fazer bonito o seu amor ou tornar bonito. Aprenda, simplesmente, a tão difícil arte de amar bonito porque de tão fácil que é gostar, ninguém quer aprender.
Vivi um e tenho visto muito amor por aí. Amores mesmo, daqueles gigantescos, ferozes, plenos, descomunais, profundos, sem reservas, cheios de entrega e graça. Mas tropeçam na dificuldade de se tornar bonito. Tão somente: bonito, embelezado e divino, tratado com atenção, zelo e carinho. Amores levados com arte e sensibilidade de um artista.
Então, esses amores que são verdadeiros, colossais, bravios, de repente se sentem ameaçados meramente por não saberem ser bonitos: exigem; postulam; rotinizam; descuidam; reclamam; param de compreender; carecem mais do que ofertam; precisam mais do que podem retribuir; enchem-se de razão. Ah! Essa razão! Tê-la é, talvez, o maior perigo no amor. Quem tem razão impreterivelmente se sente no direito – e o tem ou acha que o tem – de requerer, de exigir justiça, equidade, comparação, sem perceber que o que está sem razão esteja num momento da vida no qual não pode ter razão ou nem queira. Insisto: ter razão é perigoso! Geralmente, torna feio o amor porque é evocado com justiça na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão já dizia Arthur da Távola.
Conscientize-se. Você já refletiu se está fazendo seu amor bonito? Já tentou tirar do gesto, da atitude, de um olhar, da saudade, da alegria do reencontro ou da dor do desencontro a maior beleza existente? Provavelmente não, né? Cheio ou cheia de razões, você sempre espera do amor o que te convém, quando dele poderia pouco esperar, porque dessa forma valorizaria melhor tudo o que de bom ele pode trazer. Quem espera muito sofre e, sofrendo, deixa de amar bonito ou nunca chega nem a fazê-lo. O sofrimento nos tira a alegria e isso reflete no amor. Ele também deixa de ser alegre, igual, irmão e, principalmente, criança. E sem a alma infantil, puro como tal, nenhum amor é bonito.
Não receie o romantismo. Destrua as muralhas da opinião alheia. Faça coroas de rosas e enfeite a cabeça de quem você ama. Cante e seja alegre. Aconselha-se: encabulamento; ser pego escrevendo bilhetes de amor; não se cansar de olhar, e olhar, e olhar...; desuso das teorias, isso atrapalha a convivência; sempre que possível adiar com beijos aquela reclamação pela pouca atenção recebida. Pra quem ama toda a atenção será sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser a maior atenção do mundo. Quem ama bonito não perde tempo dessa pouca maior atenção do mundo cobrando da que deixou de ter. Não teorize sobre o amor, isso fica para os escritores românticos que veem poesia nos sonhos. Apenas ame. Siga o caminho dos sentimentos aqui e agora. Seja totalmente insensato.
Não se amedronte de tudo o que você teme, como os clichês, afinal todo amor bonito é exacerbadamente cheio deles. Então, não tenha medo da sinceridade; de não dar certo; de sofrer depois – sofrerá de toda forma; abrir o coração; contar a verdade do tamanho amor que sente. Use todas as possibilidades do jogo, artimanhas, golpes, perspicácias, atitudes eficazes (não é sábio ser sabido): seja então, você. Seja aquele no auge de suas emoções e carências, exatamente aquele que a vida impede de ser. Cante desafinado, mas todas as manhãs. Fale besteiras, mas criando sempre. Sinta o coração bater como no “com quem será” que a turma da escola sempre fazia no seu aniversário. Reviva os carinhos que aprendeu na infância. Não tenha medo de dizer eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.
Quem sabe assim, você consiga tornar seu amor bonito, ou fazer o seu amor bonito, ou bonitar fazendo seu amor, ou amar fazer o seu amor bonito – a ordem das palavras não afeta o produto. Sempre que ele seja a maior expressão de verdade de tudo o que você é e jamais deixou, parabéns porque você conseguiu, soube, pôde, foi possível.
Se o amor existe e está dentro de você, seu interior já é evidente. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide apenas da forma, da voz, da fala. Cuide do cuidado. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim você está apto para começar a tentar fazer o outro feliz.

Tibúrcio Valério

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