De tão simples, bobo e natural,
provavelmente você nunca parou pra pensar: faça seu amor bonito! Ou fazer
bonito o seu amor ou tornar bonito. Aprenda, simplesmente, a tão difícil arte
de amar bonito porque de tão fácil que é gostar, ninguém quer aprender.
Vivi um e tenho visto muito amor
por aí. Amores mesmo, daqueles gigantescos, ferozes, plenos, descomunais,
profundos, sem reservas, cheios de entrega e graça. Mas tropeçam na dificuldade
de se tornar bonito. Tão somente: bonito, embelezado e divino, tratado com
atenção, zelo e carinho. Amores levados com arte e sensibilidade de um artista.
Então, esses amores que são
verdadeiros, colossais, bravios, de repente se sentem ameaçados meramente por
não saberem ser bonitos: exigem; postulam; rotinizam; descuidam; reclamam;
param de compreender; carecem mais do que ofertam; precisam mais do que podem
retribuir; enchem-se de razão. Ah! Essa razão! Tê-la é, talvez, o maior perigo
no amor. Quem tem razão impreterivelmente se sente no direito – e o tem ou acha
que o tem – de requerer, de exigir justiça, equidade, comparação, sem perceber
que o que está sem razão esteja num momento da vida no qual não pode ter razão
ou nem queira. Insisto: ter razão é perigoso! Geralmente, torna feio o amor
porque é evocado com justiça na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter
razão já dizia Arthur da Távola.
Conscientize-se. Você já refletiu
se está fazendo seu amor bonito? Já tentou tirar do gesto, da atitude, de um
olhar, da saudade, da alegria do reencontro ou da dor do desencontro a maior
beleza existente? Provavelmente não, né? Cheio ou cheia de razões, você sempre
espera do amor o que te convém, quando dele poderia pouco esperar, porque dessa
forma valorizaria melhor tudo o que de bom ele pode trazer. Quem espera muito
sofre e, sofrendo, deixa de amar bonito ou nunca chega nem a fazê-lo. O
sofrimento nos tira a alegria e isso reflete no amor. Ele também deixa de ser
alegre, igual, irmão e, principalmente, criança. E sem a alma infantil, puro
como tal, nenhum amor é bonito.
Não receie o romantismo. Destrua
as muralhas da opinião alheia. Faça coroas de rosas e enfeite a cabeça de quem
você ama. Cante e seja alegre. Aconselha-se: encabulamento; ser pego escrevendo
bilhetes de amor; não se cansar de olhar, e olhar, e olhar...; desuso das
teorias, isso atrapalha a convivência; sempre que possível adiar com beijos
aquela reclamação pela pouca atenção recebida. Pra quem ama toda a atenção será
sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser a maior atenção
do mundo. Quem ama bonito não perde tempo dessa pouca maior atenção do mundo
cobrando da que deixou de ter. Não teorize sobre o amor, isso fica para os
escritores românticos que veem poesia nos sonhos. Apenas ame. Siga o caminho
dos sentimentos aqui e agora. Seja totalmente insensato.
Não se amedronte de tudo o que
você teme, como os clichês, afinal todo amor bonito é exacerbadamente cheio
deles. Então, não tenha medo da sinceridade; de não dar certo; de sofrer depois
– sofrerá de toda forma; abrir o coração; contar a verdade do tamanho amor que
sente. Use todas as possibilidades do jogo, artimanhas, golpes, perspicácias,
atitudes eficazes (não é sábio ser sabido): seja então, você. Seja aquele no
auge de suas emoções e carências, exatamente aquele que a vida impede de ser. Cante
desafinado, mas todas as manhãs. Fale besteiras, mas criando sempre. Sinta o
coração bater como no “com quem será” que a turma da escola sempre fazia no seu
aniversário. Reviva os carinhos que aprendeu na infância. Não tenha medo de dizer
eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.
Quem sabe assim, você consiga
tornar seu amor bonito, ou fazer o seu amor bonito, ou bonitar fazendo seu
amor, ou amar fazer o seu amor bonito – a ordem das palavras não afeta o
produto. Sempre que ele seja a maior expressão de verdade de tudo o que você é
e jamais deixou, parabéns porque você conseguiu, soube, pôde, foi possível.
Se o amor existe e está dentro de
você, seu interior já é evidente. Não se preocupe mais com ele e suas
definições. Cuide apenas da forma, da voz, da fala. Cuide do cuidado. Cuide de
você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim você está
apto para começar a tentar fazer o outro feliz.
Tibúrcio Valério
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