Não deve permanecer sozinha e guardada em seu
baú-coração. Não pode ficar sem ser correspondida anos a fio.
Após a tempestade, assim como a água presa, ela
apodrece. Torna-se estragada. Imprópria para uso.
Quando passa de sua validade, o que antes era doce
e ansioso se torna amargo e agressivo.
As lembranças se tornam arrependimentos da
confiança cega que demos a alguém e esperamos incansavelmente pelo que nunca
veio. Achamo-nos idiotas pelos anulamentos nossos.
Temos ódio do outro. Não desejamos sua volta, tão
pouco queremos um encontros mesmo que seja por acaso.
Aquele carinho de outrora trocará de lugar com a
raiva por não ser correspondido. Já não correspondemos à ternura em nossas
palavras, elas estarão sempre em ponto de ataque.
Lamentavelmente, a saudade amarga.
Deixamos de clamar por uma presença que será
sempre ausente. Toda a dedicação ao longo dos anos transforma-se num sentimento
de tempo perdido porque não houve a reciprocidade.
As flores à mesa, as mensagens, os bilhetinhos, a
fidelidade, as renúncias foram atitudes para enobrecer o fim, e descobrir que
no fim você sempre esteve de mãos dadas com a saudade.
A saudade é como o positivo e o negativo só
funcionam a dois. Caso contrário, torna-se solidão negativa.
É frustrante e dolorido um amor que não floresceu
depois de tanto regá-lo.
É arrasador uma saudade que amofina pela
indiferença do outro.
É triste promessa feita geradora de desilusões. A
frase “Pra sempre” é desilusão gerada.
A saudade não é indelével. Finda quando percebemos
que o amor era cheio de inverdades; era mentirosa à carência e morte o que
deveria ser vida.
A saudade é desejo de um amor do passado. Deve ser
sucumbida vorazmente, não mais que alguns meses. Do contrário, nos engole vivos
e entrega-nos à morte.
Tibúrcio Valério
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