segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Atração/Volta/Passado

Tenho a impressão que meus pés caminham em direção ao nada. Tento parar, mas eles não atendem ao comando de minha mente. É como se fossem comandados por um controle remoto. Estou indo de volta ao passado. O medo vai junto comigo, do meu lado, mas mesmo assim a coragem e a atração pelo desconhecido me empurram até o não sei onde. Se eu cair, me levantarei. Se me ferir, curarei com a lama do rio que atravessarei a nado. Se houver espinhos por onde eu caminhar, eles me ferirão, mas minha vontade de chegar é maior do que qualquer arranhão provocado por algo pontiagudo. Já me feriram fortemente outras vezes e eu fiz sarar. Meu corpo aos poucos criou uma camada espeça de proteção. Quase nada me atinge. E minha caminhada continua. O sol teima em queimar as expressões do tempo em meu rosto. Meu suor ficou ácido e queima, mas não sinto dor. Aos poucos minha roupa fica pelos arames farpados do tempo. Eu caminho nu. Sinto que o passado me puxa para junto de si. Meus passos lentamente vão me levando ao não tão distante. No horizonte ele me espera. Eu vou me aproximando. Caminhando. Lentamente. Timidamente. Até que eu chego e ele está lá. O desconhecido frente a frente. Sorrindo. Mostrando-se desvanecido. Agora de perto o reconheço pelo sorriso. O desconhecido era algo de um passado não tão distante. Esteve em mim, bem próximo até que eu disse ‘estou indo’ e fui, mas agora estou de volta. Meus pés me trouxeram até aqui.

Tinho Valério 

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