terça-feira, 21 de outubro de 2014

Entre o Querer e o Ser

Eu queria ter uma sala cheia de almofadas para estar com meus amigos.
Eu queria ter uma vida menos ocupada.
Eu queria ter uma vida menos atrapalhada.
Eu queria ter uma casa no interior da floresta atlântica.
Eu queria acordar diante de uma cachoeira todos os dias.
Eu queria tomar banho nela a hora que quisesse.
Eu queria não mais procurar o amor.
Eu queria dormir de conchinha com alguém todos os dias.
Eu queria viver naquela música do Kid Abelha.
Eu queria morar numa cidade rodeada de montanhas verdes pintadas a mão por crianças.
Eu queria poder dizer que a felicidade me consome diariamente.
Eu queria poder dizer que sou feliz, apenas.
Eu queria dar aula num grupo escolar de um interior paupérrimo à crianças cheias de olhares inocentes.
Eu queria escrever uma história que tocasse no coração das pessoas.
Eu queria ter uma frase pronta que fizesse as pessoas desistirem das aparências e serem apenas elas mesmas
Eu queria poder convencer as pessoas que as pequenas coisas são as melhores.
Eu queria ser mais paciente.
Eu queria ser menos ciumento.
Eu queria ser mais extrovertido.
Eu queria ser menos o tipo de pessoas que se magoa e se consome.
Eu queria saber perdoar.
Eu queria ser tipo mais amigo.
Eu queria trocar tudo o que já vivi pelo olhar carinhoso de quem amo.
Eu queria que minha arte o conquistasse.
Eu queria que pessoas como Cazuza e Drummond tivessem tido o tanto do que escreveram, o amor.
Eu queria ter sido a Tarsila do Amaral, o Van Gogh, o Chaplin, o Tom e o Vinícius de Morais.
Eu queria estar escrevendo o que eu desejaria ter um dia.
Eu queria ter ido ao Sítio do Pica-Pau Amarelo
Eu queria ter conhecido a Tia Anastácia.
Eu queria ter ido a Tangamandápio com o Jaiminho.
Eu queria ter um relógio do tempo, para amenizar o sofrimento.
Eu queria ter a cabana do meu tempo de criança.
Eu queria ser um cara que soubesse conquistar.
Eu queria ter a certeza que meus conquistados são felizes.
Eu queria saber cantar.
Eu queria ser um viajante do mundo.
Eu queria acordar com um café da manhã na cama gigante.
Eu queria me lembrar para sempre daquele primeiro sorriso naquele dia.
Eu queria saber do meu futuro amanhã.
Eu queria ter ainda meu carro de bombeiro que meu pai me deu no dia das crianças.
Eu queria, inclusive, ver ele chegando e fingir que estava dormindo só pra sentir ele me beijar o rosto.
Que queria dizer que o amo.
Eu queria poder dizer mais coisas agradáveis.
Eu queria que no Natal todas as famílias pudessem comemorá-lo.
Eu queria um dia poder nadar com golfinhos.
Eu queria lutar e vencer o mal.
Eu queria saber o que é o mal.
Eu queria ser um cara cheio de ideias boas.
Eu queria ser um homem que deixou algo valioso para alguém.
Eu queria poder registrar o momento que a mãe ouve pela primeira vez o coração do seu filho, ainda no ventre, bater.
Eu queria poder mostrar a criança dividindo sua pouca comida com outras, todas famintas.
Eu queria ter o poder de fazer pesar a consciência dos engravatados quando sentam à mesa para comer um almoço mais caro que a maioria do salário de muitos brasileiros e ainda conseguem dormir tranquilamente.
Eu queria ser um cara sem hérnia de disco, sem dor nos rins, sem dores avassaladoras na alma.
Eu queria ser mais amor e menos dor.
Eu penso, às vezes, que queria ser só um pintor.
Eu penso, ainda, que queria ser só mais uma pessoa legal no mundo.
Eu penso que ainda queria ser a criança que vê as coisas do jeito dela.
Eu penso que ainda queria ser o primeiro na fila do teatro, sempre.
Eu penso que ainda queria ser aquele menino que brincava de bolinha de gude em frente a sua casa.
Eu penso que ainda queria ser o adolescente com vontade de mudar o mundo.
Eu penso que é melhor dormir.
Eu penso também que amanhã começo a procurar realizar pelo menos algo de tudo que escrevi, o que você acha?


Tibúrcio Valério

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