Eu queria ter uma sala cheia de almofadas para estar
com meus amigos.
Eu queria ter uma vida menos ocupada.
Eu queria ter uma vida menos atrapalhada.
Eu queria ter uma casa no interior da floresta
atlântica.
Eu queria acordar diante de uma cachoeira todos os
dias.
Eu queria tomar banho nela a hora que quisesse.
Eu queria não mais procurar o amor.
Eu queria dormir de conchinha com alguém todos os
dias.
Eu queria viver naquela música do Kid Abelha.
Eu queria morar numa cidade rodeada de montanhas
verdes pintadas a mão por crianças.
Eu queria poder dizer que a felicidade me consome
diariamente.
Eu queria poder dizer que sou feliz, apenas.
Eu queria dar aula num grupo escolar de um interior
paupérrimo à crianças cheias de olhares inocentes.
Eu queria escrever uma história que tocasse no
coração das pessoas.
Eu queria ter uma frase pronta que fizesse as
pessoas desistirem das aparências e serem apenas elas mesmas
Eu queria poder convencer as pessoas que as pequenas
coisas são as melhores.
Eu queria ser mais paciente.
Eu queria ser menos ciumento.
Eu queria ser mais extrovertido.
Eu queria ser menos o tipo de pessoas que se magoa e
se consome.
Eu queria saber perdoar.
Eu queria ser tipo mais amigo.
Eu queria trocar tudo o que já vivi pelo olhar
carinhoso de quem amo.
Eu queria que minha arte o conquistasse.
Eu queria que pessoas como Cazuza e Drummond
tivessem tido o tanto do que escreveram, o amor.
Eu queria ter sido a Tarsila do Amaral, o Van Gogh,
o Chaplin, o Tom e o Vinícius de Morais.
Eu queria estar escrevendo o que eu desejaria ter um
dia.
Eu queria ter ido ao Sítio do Pica-Pau Amarelo
Eu queria ter conhecido a Tia Anastácia.
Eu queria ter ido a Tangamandápio com o Jaiminho.
Eu queria ter um relógio do tempo, para amenizar o
sofrimento.
Eu queria ter a cabana do meu tempo de criança.
Eu queria ser um cara que soubesse conquistar.
Eu queria ter a certeza que meus conquistados são
felizes.
Eu queria saber cantar.
Eu queria ser um viajante do mundo.
Eu queria acordar com um café da manhã na cama
gigante.
Eu queria me lembrar para sempre daquele primeiro
sorriso naquele dia.
Eu queria saber do meu futuro amanhã.
Eu queria ter ainda meu carro de bombeiro que meu
pai me deu no dia das crianças.
Eu queria, inclusive, ver ele chegando e fingir que
estava dormindo só pra sentir ele me beijar o rosto.
Que queria dizer que o amo.
Eu queria poder dizer mais coisas agradáveis.
Eu queria que no Natal todas as famílias pudessem
comemorá-lo.
Eu queria um dia poder nadar com golfinhos.
Eu queria lutar e vencer o mal.
Eu queria saber o que é o mal.
Eu queria ser um cara cheio de ideias boas.
Eu queria ser um homem que deixou algo valioso para
alguém.
Eu queria poder registrar o momento que a mãe ouve
pela primeira vez o coração do seu filho, ainda no ventre, bater.
Eu queria poder mostrar a criança dividindo sua
pouca comida com outras, todas famintas.
Eu queria ter o poder de fazer pesar a consciência
dos engravatados quando sentam à mesa para comer um almoço mais caro que a
maioria do salário de muitos brasileiros e ainda conseguem dormir
tranquilamente.
Eu queria ser um cara sem hérnia de disco, sem dor
nos rins, sem dores avassaladoras na alma.
Eu queria ser mais amor e menos dor.
Eu penso, às vezes, que queria ser só um pintor.
Eu penso, ainda, que queria ser só mais uma pessoa
legal no mundo.
Eu penso que ainda queria ser a criança que vê as
coisas do jeito dela.
Eu penso que ainda queria ser o primeiro na fila do
teatro, sempre.
Eu penso que ainda queria ser aquele menino que
brincava de bolinha de gude em frente a sua casa.
Eu penso que ainda queria ser o adolescente com
vontade de mudar o mundo.
Eu penso que é melhor dormir.
Eu penso também que amanhã começo a procurar
realizar pelo menos algo de tudo que escrevi, o que você acha?
Tibúrcio Valério
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