Quando fiquei
diante do espelho foi que percebi o quão cruel o tempo é. Riscos desenham outro
rosto. As marcas parecem não ter pena. Logo eu, que fui tão belo com meus vinte
e poucos anos. Diante de minha imagem refletida vi traços cortantes que sangram
por dentro de mim. Hemorragias transformam-se em meus passados e escorrem de
minha boca sujando o chão com tantos eus de outrora. Como fui. Com quem fui.
Por onde andei. O que fiz.
Minhas mãos!
Veias azuis pulsam revelando-se grossas e tão frágeis. Minha pele não é mais a
mesma. É flácida, áspera, com cicatrizes das guerras pessoais e psicológicas
travadas por mim quando busquei saber quem sou, o que sou, para onde vou.
Lamento pela
visão que causo ao outro. Logo eu, que sempre fui tão belo com meus vinte e
poucos anos...
Tinho
Valério
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