Todos os dias
ele estava ali. Azul. Tranquilo. Ao seu redor, árvores imponentes. Os pássaros
mais raros, com os cantos mais lindos, com as cores jamais imaginadas. Tudo em
perfeita harmonia. Mas ao seu íntimo particular, o Lago sempre se sentiu
sozinho. O único momento em que se sentia completo, vivo, era quando o Sol caía
e no céu surgia a Lua, que, enamorada, o banhava com os raios prateados lhe
trazendo a tranquilidade da noite.
Noite após
noite os enamorados se encontravam, mas nunca se tocavam, tinham que se
conformar apenas com olhares. O desejo utópico de se tocar era o que movia a
paixão avassaladora que um sentia pelo outro. Os dias se passavam e era sempre
assim, ela brilhava para iluminá-lo, e ele, iluminado pelo brilho de sua amada,
desejava poder um dia senti-la junto de ti.
O tempo
parecia voar nas noites em que a Lua, gigantesca e prateada, surgia ao céu. Entretanto,
logo aparecia radiante e jorrando faíscas, o Sol. O soberano que iluminava tudo
e trazia as cores para encantar o dia. Sentia inveja do Lago, porque sabia que
o amor do astro magnífico pertencia somente a ele. Não admitia o fato de
raramente poder ver a Lua aparecer e em poucos minutos ter que desaparecer para
dar lugar somente a ela para jorrar todo o seu brilho de amor àquele pequeno
ser de tão insignificante presença naquele lugar, já que havia tantos rios ao
redor com água suficiente para manter vivas outras espécies e tudo ao redor.
Esperto pelos
tantos milhões de anos de existência, o Sol viu no desespero apaixonado do Lago
um jeito de separá-los e ofereceu-lhe uma proposta para que ficasse junto de
sua enamorada Lua. “Se queres estar perto
de sua amada para sempre, ouça o que direis”, dizia o Sol ao apaixonado Lago.
Ingênuo, ele ouvia atentamente a proposta do astro-rei. “Se da forma como me falas encontrarei e ficarei por toda a eternidade
com a minha amada, assim farei”. Sorrindo o Sol se despediu do pequeno
apaixonado e logo deu lugar à luz prateada da tão desejada Lua. Animado com o
que estava por vir, o Lago despejou inúmeras declarações a sua amada. Sem
entender toda aquela paixão tão exagerada naquela noite, a Lua simplesmente
deixava-se levar pelas manifestações de carinho do seu amado, e brilhava, e
sorria, e enamorava-se cada vez mais. Ao despedir-se de sua amada, o Lago
sentiu um vazio enorme tomar conta de todo o seu redor. Imaginou ser a ansiedade
de saber que logo estaria junto do seu amor por toda a eternidade.
Na manhã que
surgia, o Sol aparecia no nascente maior do que o de costume. A sensação na terra
nesse momento era de um calor insuportável. As temperaturas haviam sido
elevadas de maneira que nunca fora registrado na Terra níveis tão altos. “Preparado para ires ao encontro de sua
deusa?”, perguntava o Sol ao apaixonado Lago. “Nunca esperei tanto por isso” respondia o ingênuo ser insignificante
que sequer sabia o que estava para acontecer. Nessa hora o Sol começou a
faiscar e brilhar como jamais havia feito antes. Os animais começaram a cegar
com os raios, morrendo logo em seguida com as queimaduras em suas peles. As
plantas murchavam e iam perdendo força até não resistir e também morrer. O Lago
aquecia a ponto de os peixes não suportarem e pularem para a terra e morrerem
fritando pelos raios faiscantes liberados pelo Sol. Enfim, o Lago começava a
evaporar-se e levitar em direção ao céu transformando-se em nuvem. Agora seu
encontro com sua tão enamorada Lua estava se aproximando, mas, do alto de onde
se encontrava o ingênuo amante, ele percebeu o quão desastroso foi seu desejo.
Tudo ao seu redor havia morrido. Os animais, as árvores, os peixes. Nada tinha
vida. Uma tristeza avassaladora tomou conta de si. Ao perceber o que havia
causado olhou para o Sol que gargalhava dele e da situação em que se
encontrava. Do lado oposto ao Sol, a Lua, a tão enamorada Lua, ia surgindo
vagarosamente, com o mais belo sorriso que ela podia oferecer, mas logo sua
expressão mudou assim que viu tudo destruído. Ao procurar seu amado, encontrou
apenas rachaduras no chão que um dia fora banhado pelas límpidas águas frias do
seu amor.
O Lago agora
era uma nuvem pesada e escura. Então, o astro-rei soprou-o fortemente e o fez
sair em direção ao infinito. Desesperado, o ingênuo apaixonado gritava por
socorro. O que foi em vão. Devido ao seu desejo insano, o Lago havia perdido tudo.
O Sol gargalhava enquanto ia desaparecendo e dando lugar ao negro da noite.
Vagarosamente,
o Lago, agora transformado em nuvem, passava diante de sua amada, que
decepcionada, o olhava com tristeza, pois sabia que nuvens são passageiras e
levam as águas a outro lugar. O ingênuo amante via sua deusa sofrer a perda do
amor entre ambos. Ele não sabia como parar e permanecer junto dela por todo o
sempre. Não voltaria mais a vê-la todos os dias como de costume, pois flutuava
no céu em direção ao desconhecido. Em função de um desejo absurdo, perdera o
grande amor de sua vida, e tudo o que vivia ao seu redor.
Agora
flutuando pelo deserto, não pode conter sua tristeza e chorou. Sobre o deserto,
se desvaneceu em água e ali mesmo, foi sugado pela sede da terra seca.
Tibúrcio Valério
gostei.... é você quem escreve? Parabéns
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirQue pena que acabou assim!Gostei como vc escreve,parabéns!Vou te seguir,adorei sua frase do blog,abraço!!!
ResponderExcluirOwww Milena, muito obg por ter lido e principalmente por ter gostado do que escrevo.... Isso é muito importante pra mim! Bjão...
ExcluirLINDA MENSAGEM ADOREI MIM ENCANTEI toca MUITO NO CORAÇÃO BARABÉNS VC E UM GRANDE POETA
ExcluirObrigado Erinaldo, fico muito feliz que tenha gostado do que escrevo!
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