quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Coisas Não Ditas



- Obrigada!
Seus olhos eram azuis como o mar de Fernando de Noronha. Tive a sensação de mergulhar nele, de olhos abertos sem que a água salgada ardesse em mim, quando olhei firme em seus olhos, que brilhavam.
- De nada! Espero que não tenha se machucado.
- Não, apenas pisei de mau jeito.
- Meu nome é Amadeu, muito prazer.
- Fernanda.
Meu coração batia forte e acelerado. Geladas, estavam as minhas mãos. Frio! eu sentia frio, apesar dos 33ºC que faziam, naquela cidade quente.
O vento trazia o cheiro do amor, que para mim era o perfume das rosas que ali existiam, e de seus lindos cabelos dourados como o ouro, e lisos e brilhantes como a mais pura seda chinesa. Eu os inalava com tal força que sentia a dor dos meus pulmões rasgando enquanto se enchiam daquele prazer inigualável. Ela me deixava em estado de êxtase. Queria correr, mas minhas pernas estavam presas. Queria beijá-la, mas minha boca estava gélida como a de um morto.
- Você esta se sentindo bem?... Moço? Oi...
- Nossa, está frio!
- Frio?! Você está doente?
Eu estava doente. Ela era a minha cura. A saliva de seu beijo era o antídoto. Eu precisava me curar. Meu corpo agonizava pelo seu beijo.
- Moço, sente-se aqui, por favor!
Senti falta de ar... A dor de uma facada atingiu o meu peito. Era como se ela fosse sendo fincada na minha pele aos poucos, rasgando meus tecidos até chegar ao meu coração e lá ser plantada como a muda da cana-de-açúcar.
Queria minha a morte doce.
- SOCORRO! Alguém ajuda aqui... Ele esta tendo um enfarte! Me ajuda...
As pessoas foram se acumulando. O seu perfume, tão puro, foi se misturando ao suor dos outros; ao hálito podre de alguém que falou em hospital.
Tentei falar algo.
- Eu... quer...
- Calma moço. Não se esforce...
- Apen... bei...
Tudo foi ficando longe e escuro. Morri sem poder dizer que ela era o verso mais perfeito da poesia mais simples. Que sua voz era o som da harpa dos anjos...
Morri aos 56 anos deixando uma casa na Tijuca, dentro dela, meu papagaio Ricardo, minha coleção de LP’s da Jovem Guarda e meu fusca 1951. O resto não tinha valor. A chave ficou no meu bolso.


Tibúrcio Valério
(25/05/2009)

4 comentários:

  1. Amigo, é perfeito!

    espero ler mais coisas! bjo

    parabéns pelo blog.

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  2. Também concordo com Arthur. Texto perfeito!

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  3. Gostei, Tinho... tem uma certa profundidade e me pereceu um tanto engraçado. Tenho uma forma diferente de ver as coisas e achei o desfecho bem inusitado. Beijos. Continue escrevendo que eu continuarei lendo.

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