Ao cair os tons alaranjados de
todas as tardes a Mãe D’água surge de dentro das águas, suntuosa. Seus cabelos
negros e longos laçam-se às flores silvestres da mata. Todo mês de Maio ela
aparece quando o sol toca as águas. Dizem ser possível ouvir o fervilhar delas
anunciando a chegada da morena de olhos negros como a noite. À medida que canta
mais inquietos ficam os homens pelo não sei o quê.
Houve um dia, um potiguara
sonhador e audacioso estava pescando e perdeu-se no tempo dos pensamentos sem
perceber que o dia findava e as águas adormeciam e se calavam. Acho que estou
variando, imaginou. Uma mulher de olhos grandes e faiscantes erguera-se de
dentro do rio. O potiguara teve medo, mas não adiantava recuar se o feitiço da
Mãe D’água já o enlaçara por completo. Ele sofria de saudade e ela crente de
seu encanto, esperava. Olharam-se por segundos. Ele sorriu.
Neste mês das flores silvestres o
índio invadiu de canoa no rio. Seu corpo trêmulo padecia de um abraço. Ela veio
vindo, vagarosamente. Abriu os lábios úmidos e dissipou seu canto suave. Houve
festa nas profundezas do rio Potengi. E dizem os mais velhos – eu não sei – que
todos os dias quando o céu se cobre de vermelho, aparece uma morena toda
enfeitada com rosas de jerimum caboclo e de longos cabelos negros que flutuavam
na correnteza do rio a esperar pelo seu noivo porque um só não bastara.
Tibúrcio Valério