“Disse que foram almas dos marinheiros que morreram nos naufrágios no
mar. Eu particularmente não acredito... acho que eram tão belos que poderiam
ser até uns deuses!”
Por muito tempo ouviu-se naquela
comunidade ribeirinha a história de dois homens misteriosos que apareceram pela
praia numa madrugada de lua cheia. Ninguém soube dizer de onde vieram ou para
onde foram. Uns dizem ser histórias de pescador, outros dizem ser a mais pura
verdade. Enfim, o que importa é que foi um acontecimento que mexeu e mexe com
muita gente até os dias de hoje.
Era meia noite e vinte e cinco
minutos quando brindaram com o vinho que tomavam naquela noite. A Lua parecia
ter caprichado no seu brilho. Radiante, ela refletia sua cor prata nas águas do
mar, que calmo e sereno começava a encher. A brisa soava como uma música
angelical que hipnotizaria até o mais bruto dos seres. Ali estavam eles, dois
homens simples, fugidos da maldade, da intolerância, das agressões. Ali,
poderiam ser eles mesmos. Ali poderiam se amar, trocar carinhos e olhares sem
medo de qualquer punição. Brindaram ao amor, ao clichê dos sentimentos lindos
despertados naquela relação. A brisa, agora entoava uma canção forte,
ludibriante, envolvente e linda. E aos goles do delicioso vinho e ao som da
quebra estridente dos amendoins em suas bocas explodiram num amor puro como se
fosse a primeira vez. Amaram-se. Seus corpos moviam-se no ato como as folhas
balançavam ao sopro do vento ou como o curvar das ondas na hora de sua quebra.
Era lindo. E o vento, as ondas, as folhas, o tempo, tudo lentamente se movia,
parecia até querer estacionar ali enquanto ambos se olhavam. Agora um pertencia
ao outro. Formaram um corpo só. Fizeram juras eternas. Foram eles mesmos se
amando.
Passava pouco mais de uma da
manhã quando os pescadores disseram dar por conta de dois homens nus deitados
na areia da praia. Pareciam dormir, mas estavam acordados, e só alguns minutos
depois deram conta da presença daqueles caiçaras próximos a eles. Sentaram-se e
observaram enquanto os pescadores passavam suas redes de arrasto. A maré já
havia aumentado e estava bem próximo a eles. Assustados, os pescadores
continuaram seu trabalho sem procurar interver. Segundos após ouviu-se um
barulho na água...
“...de certo foram os deuses que mergulharam. Os pescadores não os viram. Até hoje não sabem dizer como eles desapareceram tão rapidamente. Eu costumo acreditar que mergulharam sim, e mergulharam de mãos dadas, segurando firmemente. Dizem ouvir até hoje um gritando que amava o outro. Muitos acham ser mentira, mas eu acho que é verdade. Ah, é sim verdade. Eu acredito no amor eterno...”
Tinho Valério