quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sem Mais Palavras


Aos poucos fui mudando de cor
Mudando de temperatura
Endurecendo
Crescia para os lados
Inchava
Estava morto










Tinho Valério 

sábado, 27 de agosto de 2011

Arara-Azul


Vinha de longe
Não sei de onde
Apenas sei que veio até mim
Pousou naturalmente
E com suas asas longas
Sugeriu confiança
Abraçou-me
Aqueceu-me
O pássaro não me assustava mais
Seu canto era levado pelo vento
Suas notas musicais fluíam
Seguiam seu caminho
Eu sorria
Ele também
Era lindo

Tinho Valério

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O negreiro, os negros, a morte e eu.




Fechei os olhos para poder vê-los
O escuro dos porões negreiros era tenebroso
Ouvi gritos e lamentações
Senti o cheiro dos corpos aglomerados e sujos
As mãos que clamavam por comida e vida passavam pelo meu corpo
Não era possível equilibrar-se naquele lugar putredinoso
O mar balançava o negreiro e os negros
A presença mais frequente ali era da Morte
Eu a vi por vários momentos
Ela chegou a passar tão perto de mim que senti seu vento gélido
Ela era cinza
Opaca
Vi os negros sorrindo para ela
O que era feio para uns, para eles era linda a Morte
Ela os salvaria do sofrimento
Muitos preferiam sofrer e continuar a grande viagem
Mas ela era paciente e sabia esperar o momento certo de convencê-los a ir junto
O que era rei agora não passava de só mais um corpo preto e sujo
Misturado a tantos outros homens e mulheres esqueléticos
Crianças já não havia mais ali
A criatura cinza havia levado todas
Eles cantavam uma música triste a quase todo momento
Diziam amenizar a dor que estava sentindo
A mim fazia efeito contrário
Doía
Tomava-me o ar
Abri os olhos, não queria mais vê-los
Mas continuei a ouvi-los por muito tempo
Eu chorei por muito tempo
A Morte só tornei a ver quando ela veio me buscar...

Tinho Valério

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Negros

Chamam-vos de Negros
Eu prefiro, Gente
Humanos fortes
Da cor quente

Olhos vivos
Cor singular
Nossos primos
Não vou duvidar

Entregues a nós
Como animais
Trouxeram nas correntes
As dores dos mortais

Humilhados desumanamente
Açoitados por inconsequentes
Tratamento desumano
Deram a essa gente

Tinho Valério