sábado, 19 de março de 2011

“Se eu fosse hoje, para sempre...”

um texto de PAULO S. ALMEIDA


Se eu fosse hoje, para sempre, não buscaria respostas. Viajaria no silêncio e me afogaria na imensidão do meu ser.

Se eu fosse hoje, para sempre, os meus órgãos deixá-los-ia para os que deles necessitassem, e levaria comigo apenas as sensações que eles me causaram em vida!

A DEUS, deixaria a minha lealdade e minha fé. Pois tudo mais o que tenho, ele que me presenteou e, deixo-lhe, então, também a minha eterna gratidão por tanta generosidade.

Aos meus pais, ficaria o meu ‘muito obrigado’, por terem sido os instrumentos principais, escolhidos por DEUS, para a minha existência.

Ao meu amor, nada seria preciso deixar, pois a ti já teria me doado em vida, e o teu corpo teria sido, então, o segundo lar de minha existência. Assim, eu já estaria em ti.
Agradecer-lhe-ia, eternamente, por poder lhe dizer não só o ‘eu te amo’, mas, principalmente, o ‘eu te amo também’.
( Amor verdadeiro. Amor eterno)

            Aos amigos especiais, lhes deixaria a minha lembrança, pois para vós, eu tenho certeza, Estive Presente.

            Aos seres desprezíveis, que mesmo agora não chamaria inimigos, não desejo o mal. A vida se encarregará de cobrá-los. Assim, acredito que nunca chegarão ao topo e os deixo-lhes meus sinceros votos de que durante a queda do meio do caminho, que certamente será traiçoeira, lembrem - se de mim e de tudo o que me fizeram. Alguns de vocês se mostraram de inicio, e eu os ignorei, mas com admiração. Outros mostraram pouco a pouco a verdadeira face, antes mascarada, e, não me doeu matá-los em mim. E mesmo sendo muitos, mesmo juntos, formam apenas um pequeno grão de insignificância diante de minha existência!

            Se eu fosse hoje, para sempre, das minhas fotos retiraria toda e qualquer legenda, pois os olhos devem compreender o sentido da  imagem pelo que ela diz por si só, e não pelo teor da explicação.

            Os meus bens materiais pessoais desculpem-me os miseráveis, mas esses a ninguém eu deixaria, pois poderiam significar instrumentos de lembranças aos que me conheceram, e temo as saudades mal interpretadas.

            A natureza, eu a socorreria.

            Se eu fosse hoje, para sempre, carregaria lembranças e deixaria saudades.

            Arrependeria-me de muito, mas tendo a oportunidade, faria quase tudo de novo.

            Se hoje, e para sempre, abandonasse o meu corpo e passasse a vagar no mundo dos espíritos, não rogaria a DEUS mais nenhum segundo sequer de vida. Porque saberia ter vivido pelo tempo necessário e teria a certeza de que se estivesse algo mais reservado para mim em algum futuro, eu não estaria indo embora. Porque tudo o que é vivo morre, mas perece ao seu tempo.

            Ah!

            Se eu me fosse hoje... Para sempre... Para o sempre..

sexta-feira, 18 de março de 2011

Anjo

Hoje vi um anjo. Parecia tão solitário. As expressões em seu rosto eram de tristeza, mesmo assim o anjo era lindo. Fiquei imaginando ele de asas abertas, o quão deveria ser extraordinário. Mas porque será que o anjo encontrava-se ali, imóvel? Seu olhar era vago. Haveria de estar sofrendo? Olhei em volta e me perguntei se aquelas pessoas que passavam por mim poderiam ver o anjo, mas percebi que elas estavam tão apressadas que ele era imperceptível aos seus olhos. Apenas eu o via. Talvez ele quisesse ser visto só por mim. E o anjo continuava lá, paralisado, olhando para a rua ou o nada. Não existiam cores naquela manhã de inverno, apenas um céu cinza e uma árvore preta ao seu lado. Vi que o anjo também era cinza. Sorri disfarçadamente, talvez por decepção e porque havia percebido que eu não era especial como achei que fosse, o anjo jamais aparecera só para mim, ele sempre esteve lá. Era apenas um monumento na entrada do cemitério que via as pessoas passar todos os dias, como quando eu passava, sem percebê-lo. E via também aqueles que eram pessoas, posteriormente apenas matéria dentro de um caixão entrando no espaço que ele era guardião e sobre o arco, na entrada do cemitério, recebia essas matérias inertes. Quantos corpos sem vida entraram naquele lugar, uns com histórias dignas de admiração, que deixava pessoas chorando pela perda, pessoas que foram especiais e deixaram um legado neste mundo, mas também outros corpos que para muitos já partiram tarde. Enfim, muitas histórias haviam passado por ali, como outras novas haveriam de passar. Quem sabe não fossem essas histórias que ao longo do tempo marcaram as expressões daquele lindo anjo. Mas ele continuava ali, parado e sempre a postos esperando a entrada de um alguém sem vida. Talvez nunca ninguém o percebesse, mas ele continuaria lá, imóvel, em silêncio e sempre olhando as pessoas que, apressadamente, passavam por ali seguindo um caminho, mas que no futuro viriam pra aquele espaço silencioso, sem cor e sem vidas. Apenas terra e osso e concreto. O vento soprou e sai sem direção... apenas pensando no anjo que eu tinha visto hoje.
Tinho Valério

quinta-feira, 17 de março de 2011

Kelly

Estava na hora. Pegou seu estojo de maquiagem e o pôs sobre a mesa. Havia ali, naquela caixa prateada, as muitas faces que Amanda gostava de usar em certos momentos de sua vida.
Acordou sentindo-se sexy naquele finalzinho de tarde. Foi ao computador que deixara ligado durante o dia, abriu sua página no Twitter e postou que se sentia especialmente sensual naquele momento. Em seguida foi ate seu guardarroupas, procurou aquele vestidinho preto bem justo a seu corpo, o qual lhe dava formas perfeitas. Colocou-o sobre a cama e se dirigiu ao banheiro para banhar-se. Como de costume ligou seu aparelho de som, a música que passava na rádio era alguma da Britney Spears e com todos aqueles gemidos feitos pela cantora enquanto fazia seu desempenho vocal, Amanda tomava seu delicioso banho masturbando-se até atingir o gozo.
Agora em frente ao espelho da cômoda, Amanda começava o seu processo de dar vida a uma nova mulher, a quem ela chamava de Kelly. A partir daquele momento, Amanda não existia mais, mas sim uma mulher loira, com cabelos ondulados e levemente despenteados. Olhos azuis de uma profundidade indescritível e um olhar sedutor  desprovido de qualquer pudor. Kelly era despudorada, cheia de malícias e exalava sexo. Maquiada e toda modelada pelo sinuoso vestido preto, Kelly estava quase pronta se não fosse por um pequeno detalhe: estava faltando seu salto alto. Correu até o closet, pegou sua sandália de um salto com dezessete centímetros deixando-a mais irresistível que nunca. Finalmente pronta, saiu de sua casa e foi para as ruas trabalhar, encontrar seus clientes para dar prazer a eles. E assim foi.
Já trabalhava na noite a alguns anos e sabia muito bem como era a vida de uma profissional do amor – era assim que ela se referia e preferia chamar seu trabalho. Já havia enfrentado de tudo, desde homens gordos e sujos, que ela os obrigava a tomar banho antes de qualquer relação, até homens perfeitos, de um corpo atlético impecável e fantasias sexuais absurdas. Certa vez um queria que ela o fudesse com um pepino enquanto ele estava de quatro sendo chicoteado pela mesma, e assim Kelly realizou. Poderia também falar do casal de lésbicas que queriam que a Kelly transasse com elas no meio da rua dentro do carro, ou do homem que queria ver ela e sua mulher fazendo sexo na frente dele enquanto filmava.  Sua profissão talvez fosse a mais honesta de todas, ela era paga para dar prazer e fazia. Dava prazer...
Quantas histórias eu poderia contar da Kelly, mas tomaria muito tempo. Mas deixo que vocês, amigos leitores, abusem de suas imaginações e viagem com a nossa personagem agora. Entrem junto com ela no carro que acabou de parar ao seu lado e sigam, porque depois que a noite acaba a Amanda volta e a Kelly não existirá por pelo menos alguns dias, e daí surgirão outras, como a Paula, a Raquel, a Vanessa, mas sobre essas não saberei contar histórias...

Tinho Valério

quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma Breve História


Chegou feito o vento, invisível, mas não deixou de ser sentido. Passou por mim como uma leve brisa que de tão suave, meus olhos foram atraídos. Naquele momento fiquei cego para o mundo. E desde então, aquele que chegou como o vento, roubou os olhos de mim e os levou para ele, embora não precisasse, pois bastaria apenas um pedido, que eu faria porque além dos meus olhos, todo o meu ser, como minha essência já pertenciam a ele.

Tinho Valério

quinta-feira, 10 de março de 2011

Louca

Hoje me encontro só, perdida nessa cama vazia que outrora estivemos juntos fazendo aquele sexo que só nós sabíamos. Mais uma madrugada, traumatizada, tudo por causa de você que não está aqui pra me dar amor. É impossível controlar a vontade de ter seu corpo por cima de mim, esse desejo que me toma conta, as lembranças vêem e quero ter sua parte mais ereta viajando dentro de minhas entranhas me dando seu calor me envolvendo em gemidos em arranhões puxões de cabelos banhos de saliva através de sua língua solta. Sinto-me num pesadelo sem fim, que a cada momento toma posse de minha alma, dos meus desejos e isso me deixa louca. Arranho as paredes as encho com o seu nome acabo o meu batom. Eu estou louca porque não posso mais te amar. Eu fui louca porque exagerei em tudo. Sei que não há ninguém no mundo que ame você mais que eu. Sinto-me presa dentro de um pesadelo, na qual eu fico mal todas as noites e saio pelas ruas a te procurar. O vento me leva. No sonho eu te vejo, mas não consigo te amar. Estou louca. Preciso acordar desse pesadelo. Puxo os meus cabelos, mas não sinto dor. Eles caem de minha cabeça. Estou louca. O piso do chão é de cacos de vidros, meus pés estão cortados, meu sangue está por toda a parte. O chão ficou vermelho. Não consigo chorar. Não me importo com meu sangue, que seja doce ou insosso. Estou louca. Minha cama agora tem espinhos e olhos ao redor me vigiam. Me encontro no canto do meu quarto. Chuto o criado mudo e ele quebra. Ouço gritos de desespero, choro, depois vozes que me chamam e pedem que eu fique. Estou louca. As palavras já não fazem mais sentido pra mim, então choro. As lágrimas secaram. Só consigo gemer. Ninguém ouvi os meus gemidos. A cama. O piso. O teto. O sangue. O criado mudo. Todos sumiram. Agora está tudo branco e vejo um espelho que reflete uma mulher idosa. A mulher idosa sou eu. Meu reflexo é velho e feio. Estou louca. A mulher idosa me percebe e avança como se quisesse me matar, mas ela esta presa dentro do espelho. Ela diz coisas, mas não ouço. Ela grita. Eu não ouço. Tudo não faz mais sentido. Estou louca. Louca. Louca...

Tinho Valério